sexta-feira, 10 de abril de 2009

A rosa





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moodle.apvm.net




Estou aqui! Estou aqui, não pretendi fugir, nunca!
o meu peito é sólido
o meu nome é sólido
o meu céu é sólido
o meu ar é sólido
as minhas dúvidas são sólidas.

Acabei de jantar no Restaurante Chinês e olhei para as minhas mãos
estão inquietas como ontem
tremem como ontem
e ontem tudo foi
inquieto e trémulo como as minhas mãos.

Não há nenhuma flor que resista à beleza da poesia de Paul Éluard
não é meu filho? repetia aquela mãe que eu nunca tive
E eu afirmava afirmava sempre
que nada neste mundo tem a força de uma rosa

oh a minha mãe era bela
todas as mães são belas
e eu só posso chamar-lhes meu amor!

Quando a minha mãe morreu a cidade não tinha sombras
em Abril tinha recomeçado tudo
até as próprias sombras
e eu vesti-me de branco para dar o último beijo a minha mãe

no dia em que me senti pela primeira vez um homem
porque, ao ficar de novo órfão
disse: É preciso ler Paul Éluard! e não
lhe dei simplesmente a minha rosa

Joaquim Pessoa, 125 Poemas – Antologia Poética,
Lisboa, Litexa-Portugal, 1983