quarta-feira, 18 de março de 2009

Da influência da lua













Foto in
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Outono. O Sol, qual brigue em chamas, morre
Nos longes da água… Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poesia escorre
E os bardos, a cismar, molham a pena!

Ao longe, os rios de águas prateadas,
Por entre os verdes canaviais, esguios,
São como estradas líquidas, e as estradas,
Ao luar, parecem verdadeiros rios!

Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos,
O xaile pedem a quem vai passando…
E nos seus leitos nupciais, os ninhos,
As lavandiscas noivas piando, piando!

O orvalho cai do céu, como um unguento.
Abrem as bocas, aparando-o, os goivos;
E a laranjeira, aos repelões do Vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.

E o orvalho cai… E, à falta de água, rega
O vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o Padre-Oceano, já de longe, prega
O seu Sermão de Lágrimas à Lua!

A Lua! Ela não tarda aí, espera!
O mágico poder que ela possui!
Sobre as sementes, sobre o Oceano impera,
Sobre as mulheres grávidas influi…

Ai os meus nervos, quando a Lua é cheia!
Da Arte novas concepções descubro,
Todo me aflijo, fazem lá ideia!
Ai a ascensão da Lua, pelo Outubro!

Tardes de Outubro! Ó tardes de novena!
Outono! Mês de Maio, na lareira!
Tardes…
-------- Lá vem a Lua, gratiae plena,
Do convento dos céus, a eterna freira!

António Nobre, ,
Porto, Livraria Tavares Martins, 1971