sexta-feira, 22 de novembro de 2019

ECLIPSE TOTAL




era quase meio-dia e a professora
mandou-nos embora que fôssemos
depressa para casa porque dentro
de meia hora iria ficar noite cerrada

mas no caminho para casa ficava o nosso
habitual estádio um longo carreiro
de quatro metros de largo
nem tanto entre dois pinhais

algum receio tomara conta do coraçãozito
de cada rapaz o sol começara a empalidecer
ia decerto desmaiar de chofre por completo
mas uma pequena bola de trapos começou
a rolar na congosta e aos pontapés
volvidos breves minutos já o medo fora
fintado uma centena de vezes

a bola já passara repetidamente
os marcos de pedra 
já se gritara e repetira golo
e como sempre o sentido de jogo
de cada equipa mudava aos cinco
para tudo terminar aos dez

a noite prometida ficara por um vago
crepúsculo o sol desmaiado voltara
a si lentamente não fora o fim do mundo
apenas um delíquio de alguns minutos

na aula seguinte explicou-nos a professora
que a lua se colocara de permeio entre a terra
e o sol mas houve quem acreditasse
que fora um astro diminuto a que chamávamos bola
que nos eclipsara o medo a lua a terra o sol
e o próprio eclipse

Anthero Monteiro
21 nov. 2019

Anthero Monteiro, 21 novembro 2019