domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quartas Mal Ditas - Poesia / Biodiversidade









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Sessão das Quartas Mal Ditas no Clube Literário do Porto. Dia 24 de fevereiro. Tema poético-científico: Biodiversidade.
Convidada: a bioespeleóloga Ana Sofia Reboleira com as suas descobertas de novas espécies animais. Exposição entusiasmante, seguida por todos com a máxima atenção. Perguntas do coordenador e do público, algumas complicadas. Respostas brilhantes, seguras, convincentes. Uma presença jovem, simpática, ainda para mais de alguém que ama também a Poesia e a diz com paixão. Ao piano: José Veloso Rito, um engenheiro dos sons, virtuosismo sobre as teclas, magnetismo no ar. Cá dentro: os resistentes à intempérie, amantes da poesia, da música, do saber.
Lá fora: as cordas de chuva, o arco de vento, uma música satânica e impertinente.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Anthero Monteiro na Escola Secundária da Boa Nova - Leça da Palmeira

















Hoje mesmo, Anthero Monteiro, a convite da Prof.ª Eugénia Gonçalves, esteve em Leça da Palmeira em conversa com professores e alunos do 11.º ano da Escola Secundária da Boa Nova. Os alunos leram vários dos seus poemas e obtiveram respostas para as questões que lhe quiseram colocar. O autor de Canto de Encantos e Desencantos e de Desesperânsia leu também ele e comentou outros dos seus textos poéticos.
Foram cerca de 2 horas de leituras e de conversas em ambiente de cordialidade e de participação aberta e interessada de todos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quartas Mal Ditas comemoram o Ano Internacional da Biodiversidade

















Na próxima quarta-feira, lá estaremos no Clube Literário do Porto, como acontece todos os meses,mas desta vez para falar da Biodiversidade. Para além da música, não faltarão poemas sobre o tema, nem com quem abordá-lo nas nossas conversas.

A nossa convidada é certamente a pessoa mais indicada para ilustrar esse tema com a sua formação, saber e vivência, apesar de se tratar de uma jovem.

Quem é ANA SOFIA REBOLEIRA?


Espeleóloga e bióloga.

Licenciada em Biologia pela Universidade de Aveiro (2006).

Mestre em Ecologia, Biodiversidade e Gestão de Ecossistemas (2007), pela U.A., com uma dissertação intitulada: Coleópteros (Insecta, Coleoptera) cavernícolas do Maciço Calcário Estremenho: uma abordagem à sua biodiversidade.

Actualmente é bolseira de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, na Universidade de Aveiro e na Universidad de La Laguna, Espanha. Prepara uma tese sobre Conservação de fauna subterrânea em regiões cársicas.

Nos últimos anos tem dedicado a sua investigação ao estudo da Biologia Subterrânea, descobrindo e descrevendo novas espécies para a Ciência. Presidente do conselho coordenador do NEUA (Núcleo de Espeleologia da Universidade de Aveiro), é secretária executiva da Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia e secretária da Comissão Europeia de Protecção de Cavidades da Federação Europeia de Espeleologia, membro da Sociedade Internacional de Bioespeleologia e do Grupo de Investigações Espeleológicas de Tenerife. Participa em expedições espeleológicas para diferentes partes do mundo e em vários projectos de investigação internacionais, na área da fauna subterrânea. A National Geographic Magazine (Portugal) divulgando o seu trabalho desde 2007 e em 2008 foi-lhe atribuído pela FPE um prémio de mérito, pelo seu trabalho científico em prol do interassociativismo.

O seu trabalho sobre a Biologia Subterrânea foi objecto de reportagens e entrevistas da RTP e da Antena 1 e as suas descobertas têm sido noticiadas por diversos órgãos informativos (Público, Expresso, JN, Agência Lusa, etc.).

Participou na organização de diversos encontros internacionais sobre espeleologia e em diversos projectos de investigação.

Apresentou mais de duas dúzias de trabalhos em encontros científicos, jornadas, conferências, simpósios, seminários e congressos em Portugal, Espanha, França, País de Gales e Áustria.

Publicou vários artigos e relatórios em revistas científicas especializadas.

É, além disso, uma grande apreciadora de Poesia, e muitas vezes declamou poemas em publico.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Após a «morte de Deus» por António Rego Chaves

Manuel Laranjeira (1877-1912) viveu obcecado pelo suicídio: Soares dos Reis, Júlio César Machado, Camilo, Antero de Quental, Trindade Coelho e Mouzinho de Albuquerque foram alguns dos portugueses ilustres que, entre 1889 e 1908, puseram termo à existência. O seu amigo Miguel de Unamuno, a quem chamara a atenção para este horror, escreveria em Novembro de 1908 um artigo que intitulou «Um povo suicida», mais tarde incluído em «Por Tierras de Portugal y de Espanha». Aí afirmava, sem abrir espaço para qualquer dúvida: «Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste.

Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. A vida não tem para ele um sentido transcendente. Querem viver, talvez, sim, mas para quê? Vale mais não viver.» Em carta transcrita por Unamuno no mesmo artigo, Laranjeira opinava: «Neste malfadado país, tudo o que é nobre se suicida; tudo o que é canalha triunfa.» E o autor de «O Sentimento Trágico da Vida» antecipava: «Dentro de alguns dias, a 1 de Dezembro, celebrarão as festas da restauração da sua nacionalidade, ter sacudido a soberania dos Filipes de Espanha. No dia seguinte voltarão a falar de bancarrota e de intervenção estrangeira. Pobre Portugal!».

Já depois do suicídio do nosso grande diarista, o filósofo bilbainho reconheceria ter sido ele quem lhe revelara «a alma trágica de Portugal, não direi de todo o Portugal, mas do mais profundo, do maior». De facto, Manuel Laranjeira sintetizara assim o nó do problema do país que o vira nascer: «O mal da sociedade portuguesa é apenas este – a desagregação da personalidade colectiva, o sentimento de interesse nacional abafado na confusão caótica dos sentimentos de interesse individual.» Passados cem anos, haverá sem dúvida quem pense ter muito boas razões para considerar perene este severo mas não infundamentado diagnóstico…

Em lúcida síntese, escreveu Urbano Tavares Rodrigues sobre Manuel Laranjeira: «Viveu uma existência intensamente interior, com explosões de revolta e desespero, de que a sua poesia e a sua correspondência são o melancólico reflexo. Roído pela sífilis e, como médico que era, inteiramente consciente do seu estado, a doença lhe avolumou o tédio de viver sem Deus e sem razão alguma, predispondo-o para uma solitária experiência de dor universal.» Na verdade, ao identificar-se com um «D. Quixote de braços cruzados», dizia sentir-se «cada vez mais enojado dos homens, do mundo e da vida». Escrevia: «Sinto uma grande fadiga moral, um piedoso cansaço, de piedade feita de desprezo, por tudo, pelas coisas e sobretudo pelos homens. Eu não sinto o vazio universal de Antero: sinto uma coisa pior – sinto a torpeza universal.»

Ousou Anthero Monteiro interpretar o significado da vida e da obra desta trágica personagem e, diga-se desde já, fê-lo com mão de mestre, num ensaio inteligente e bem documentado que, ao contrário do que é uso em Portugal, não abdica da indicação de uma muito actualizada bibliografia e do indispensável índice onomástico. Fazendo sua a célebre sentença de Unamuno sobre Laranjeira – «Matou-o a vida. E, ao matar-se, deu vida à morte» – o autor, depois de caracterizar os misticismos cristão, hindu, budista, islâmico e judaico, defende a tese segundo a qual o seu biografado professou, não um misticismo de carácter religioso, mas um misticismo sem Deus, laico, terminologia esta que, aliás, já o próprio utilizara na sua polémica tese de licenciatura «A Doença da Santidade». Depois de um capítulo sobre a recepção de Manuel Laranjeira, onde infelizmente também avultam o azedume e a mesquinhez de algumas vozes mordidas pelas nossas ancestrais maleitas da inveja e da intolerância, Anthero Monteiro analisa com brilho as «dialécticas de vida» do homem, do cidadão e do escritor – convivente e solitário, solidário e egoísta, interveniente e abúlico, pensador e «sentidor», ateísta e «crente».

Detenhamo-nos nesta última, indispensável à compreensão do título do livro. «Morto» mas mal «sepultado» o mítico Deus da sua infância, escreveria Laranjeira: «A minha ‘cracia’, o meu ‘ismo’, seria aquele em que coubessem, como na nave de uma catedral infinita, após um acordo afectuoso, final, todos esses seres que a engrenagem social fez inimigos irredutíveis: reis, imperadores, plebeus, vadios, criminosos, fartos, famintos, vencidos, vencedores, esmagados, todos, os homens todos, a Humanidade inteira – a vida inteira.» Comenta Anthero Monteiro: «O ateu Laranjeira, afinal, é um crente: acredita na possibilidade de ‘realização dum ideal de felicidade universal’. E é também um apóstolo: pretende agir de maneira que ‘a máxima das nossas acções se possa converter em lei universal’. É, pois, também um místico com a mesma tendência à ‘universalização da vontade’ que atribui a todos os místicos no seu ensaio sobre ‘A Doença da Santidade’.»

Mística da vida, mística da conhecimento, mística da arte, em todas o autor do «Diário Íntimo» parece ter apostado, mas sem êxito. Em Dezembro de 1908, confessava ao seu atento interlocutor Miguel de Unamuno: «A última verdade será a que nos desmanchar a última ilusão – a ilusão da imortalidade: no dia em que o homem tenha de renunciar à sua loucura de absoluto… – já se sabe, D. Quijote também ficou ‘cuerdo’ (cordato) … para morrer.

Para o suicídio! – não será afinal este o sentido da vida, da vida humana, pelo menos?» Conclui Anthero Monteiro: «Roído pelo bicho da sede, demandou a Verdade, sempre escorregadia, a Justiça, sempre defraudada, o Desconhecido, sempre incognoscível, o reunir todos os seres, toda a Humanidade, ‘numa catedral infinita’. Acreditou ainda na Perfeição, ou, pelo menos, empenhou-se sempre na sua própria evolução perfectiva. Nesse processo em que alguns se empenharam para melhorar o mundo, torná-lo pelo menos mais habitável, construir um amanhã diferente que tarda em chegar, Manuel Laranjeira fez bem a sua parte.»

Anthero Monteiro, O Misticismo Laico de Manuel Laranjeira, Roma Editora, 2006,
225 páginas
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Recensão do livro acima referido de Anthero Monteiro
in
http://www.scribd.com/doc/26713706/Manuel-Laranjeira-Anthero-Monteiro


Manuel Laranjeira, poeta da Feira e de Espinho, suicidou-se nesta última cidade, na sua casa da Rua 19, no dia 22 de Fevereiro de 1912, portanto, há 98 anos. Vêm aí as comemorações do centenário da sua morte. A Biblioteca Municipal de Espinho e a Escola Secundária de que é patrono estão já a prepará-las.

António Rego Chaves é licenciado em Filosofia. Foi jornalista e repórter internacional, de 1968 a 2003, no Diário Popular e no Diário de Notícias. Colaborou, antes do 25 de Abril, na Seara Nova e em O Comércio do Funchal. Na extinta página de Livros, do DN, e no seu suplemento DNA, assinou grande número de recensões e ensaios.
Publicou "Vinte e Quatro Diálogos Bíblicos" e "Encontros em Florença". Juntamente com Ana Marques Gastão e Armando Silva Carvalho, é autor de "Três Vezes Deus" (Assírio & Alvim).

(in www.wook.pt/authors)

Onda Poética de 11 de Fevereiro



Imagens da última sessão (fotos Anaas)











quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Artesanato & Poetrix (Mia & Anthero)


Apenas alguns exemplos das peças que hoje estarão patentes no Púcaros Bar
a partir das 22.30 horas.






terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Onda Poética 11 Fevereiro : "O Amor é..."


Mais um evento poético:
a Onda Poética do próximo dia 11/2, que, nas vésperas do Dia dos Namorados, vai integrar-se no tema de "O Amor é..." (o que ninguém sabe muito bem o quê).

Lá estará o colectivo da Onda, lá estará uma vez mais o Carlos Andrade com a sua voz e a sua guitarra acústica, lá estarão os espontâneos para mostrarem o que valem no seu momento próprio, lá estarão os nossos amigos e, esperamos, muito mais gente de Espinho e não só do que é costume e os habituais amantes da Poesia.

A Onda está quase a comemorar o seu 12.º ano. Esta é a 130.ª sessão. É obra! Ou não será?

...e viva a POESIA!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Poetrix e Artesanato no Pucaro's Bar


Na próxima quarta-feira, dia 10/2, no Púcaro's Bar, nas Arcadas de Miragaia, no Porto, a partir das 22.30 horas, estará patente uma mostra de peças de artesanato decoradas com textos de poetrix de Anthero Monteiro que, como se sabe, foi o primeiro poeta europeu a publicar um livro nessa modalidade.

As peças que versarão sempre o tema do AMOR, nas vésperas do Dia dos Namorados, são da autoria de Mia (Umbelina Mendes), sua conterrânea.

Decorrerá, no mesmo local, a partir das 24 horas, a habitual Noite de Poesia do Púcaros Bar, com a presença do mesmo poeta e de outros e a possibilidade de participação de todos os interessados.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nenhum oráculo...



O autor
lendo
os seus
poemas








Nenhum oráculo o predissera ainda

e no entanto natural e discreto
mas novo e excepcional
tudo fluiu como o tempo
Ninguém traçara aquela encruzilhada
e todavia encontrámo-nos
fazendo ali confluir os nossos caminhos
O próprio deus
ao ver traída a ordem das coisas
deve ter encolhido os indolentes ombros

Na recíproca busca
as bocas
engoliram todas as palavras
e foram mordendo
cada
vez
mais
fundo
a mútua
novidade

E recomeçaram
insistiram
remexeram toda a areia da ilha do tesouro
e nunca se desiludiram
porque iam encontrando
ou construindo
ilusão
após
ilusão
cientes ou esquecidas
de que o tesouro não mora naquela ilha
não mora certamente
em nenhum arquipélago da via láctea

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E quando o teu atlas se abriu
pairaram os meus dedos
como águias sobre o pergaminho da paisagem
a estudar as fáceis planícies
os meandros dos álveos escondidos
os recortes caprichosos
as tépidas enseadas
Demorei-me em cada colina
-------------- em cada coluna
que encontrei lá no topo
rodeei-as vezes sem conta
até entontecermos eu e as colunas
elas crescendo sobre plintos róseos
eu comprazendo-me na própria vertigem

Depois só sei que segui viagem
só sei que se fez voragem
que andei perdido por labirintos
----------- por lábios íntimos
que me entranhei pelas florestas
----------- com flores de giestas
e que caí nos nos teus vesúvios
--------------- nos teus eflúvios
---------- em mares tão dúbios
que já nem sei rememorar
a minha história
a nossa história
------------------ até ao fim

Recordo apenas
que no final deste princípio
te ouvi dos lábios macerados
esta pergunta apreensiva

------------- O que pensarás de mim?

Respondo agora

------------- De ti não penso nada
------------- Só sei que penso em ti


Anthero Monteiro
Espinho, 8 de Setembro 1998
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Poema extra-tema mensal,
enquanto não se decide qual o tema do mês em curso.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Porque não digo adeus




O autor
(Foto Anaas)





naquele tempo
sobre o lugar do meu escrevi o teu nome
como sol humilhando todos os astros

ao olhar agora para além da cortina
diviso a cinza das searas incendiadas
os poentes submersos nas ondas dos dias

os dedos mirraram como gavinhas secas
dantes entrelaçadas pela ânsia e pelo ciúme
e as veias romperam-se pela usura
das seivas outrora fecundas

o número da tua porta onde eu batia
para chamar o infinito que prometeste
é ainda um oito deitado
mas agora muito mais ao comprido
e rígido como todos os mortos

tardo em dizer-te adeus
porque é palavra que o vento e o mar
vêm repetindo em minha vez
enquanto apagam uma a uma
toda as pegadas que deixei nos areais

Anthero Monteiro, inédito
Espinho, 24 de Fevereiro 2006

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Poema extra-tema do mês