segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Anthero Monteiro: nota bibliográfica
Anthero Monteiro
e algumas das suas
obras poéticas
(Foto Elias
Moreira)
POESIA:
Canto de Encantos e Desencantos,
Espinho, Edição do autor, 1997
2.ª edição: V. N. Gaia, Corpos Editora, 2005
O Remédio É Naufragar – Manuel Laranjeira Despedindo-se
Espinho, Elefante Editores, 1998 (esgotado)
A Lia Que Lia Lia
(poemas infanto-juvenis)
Espinho, Elefante Editores, 1999 (1,ª ed. esgotado), Corpos Editora, 2010 (2.ª edição)
Com Tremura e Desamor
(Tubos de Ensaio sobre a Decadência)
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2001
Cenas Obscenas
(Cigarrilhas Poéticas),
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2001
Esta Outra Loucura,
(o primeiro livro de poetrix em Portugal e na Europa, já em 2.ª edição)
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2002
Desesperânsia,
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2003
2.ª edição, 2009
A Sara Sardapintada,
(poemas infanto-juvenis),
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2004
Sete Vezes Sete Nuvens,
Porto, Egoiste (Corpos Editora), 2010
Sulcos da Memória e do Esquecimento,
Porto, Corpos Editora, 2013
OUTROS POEMAS inseridos nas seguintes obras:
O Livro É Uma História com Boca,
(Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa),
Lisboa, Instituto Piaget, 1996
Malasartes,
(Cadernos de Literatura para a Infância e a Juventude)
N.º 13 - Dezembro 2003 - Junho 2004
Histórias e Poemas para Pessoas Pequenas,
Porto, Porto Editora, s/d
Quadrar,
(Apontamentos do Quotidiano)
Poesia de Fernando Morais, Julho 2007
Antologia Poetrix n.º 1,
Rio de Janeiro, Editora Scortecci, 2002
Antologia Poetrix n.º 3,
Brasil, Livro.com, 2009
Abril Certo na Hora Incerta,
Porto, Partido Comunista Português - Sector Intelectual do Porto, 2010,
Edição Comemorativa do 36.º aniversário do 25 de Abril
501 Poetrix para Ler antes do Amanhecer,Colectânea a sair dentro em breve no Brasil
ENSAIO:
Misticismo em Manuel Laranjeira: o autodiagnóstico de um médico doente de santidade,
Santa Maria da Feira, LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2004
(Prefácio de Luís Machado de Abreu)
A Festa das Fogaceiras e o Feriado Municipal de Santa Maria da Feira,
Santa Maria da Feira, Edição da Câmara Municipal, 2005, Comemoração dos 500 anos das Fogaceiras
Santa Maria da Feira, Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2005 (idem)
500 Anos de Tradição Festa das Fogaceiras,
Santa Maria da Feira, Edição da Câmara Municipal para distribuição no concelho, 2005,
40 000 exemplares
O Misticismo Laico de Manuel Laranjeira,
Lisboa, Roma Editora, 2006
(Prefácio de Luís Machado de Abreu)
OUTROS ENSAIOS e trabalhos inseridos em revistas ou livros colectivos:
"O estereótipo na Comunicação"
in Colóquio, Educação e Sociedade n.º 5, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Março de 1994
"O Monstro-Barão, a Bela Adormecida e a Rosa Mística" in Forma Breve n.º 1 - O Conto - Teoria e Análise, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2003
Vide texto integral aqui
"Ainda há lugar para a Poesia?" in Homenagem a Mia Couto - Actas do 8.º Encontro de Professores de Portguês de 8 e 9 de Maio de 2003 no Centro de Congressos de Lisboa (texto da comunicação apresentada na mesa redonda com o mesmo título), Areal Editores, 2004
"Manuel Laranjeira: o ateu e o místico (ou a vertigem de outra luz)" in Novas Variações sobre Tema Anticlerical (Coord. Luís Machado de Abreu), Centro de Línguas e Culturas, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2005
"Os Sonetos Anticlericais de Oliveira Guerra (no Centenário do seu Nascimento)" in Incidências Anticlericais (Coord. Luís Machado de Abreu), Centro de Línguas e Culturas, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2006
"Guilherme Braga, o Poeta que morreu duas vezes"
e
"O Livro Sexto de Sophia: a peregrinação com o Homem a caminho do esplendor absoluto"
in Orlando da Silva (coordenação, desenhos e grafismo), Catorze Escritores do Norte, Santa Maria da Feira, 2009 (a reeditar ainda este ano na Corpos Editora)
PREFÁCIOS E INTRODUÇÕES a obras de outros autores:
Manuel Laranjeira,
Comigo 1 - Versos de um Solitário,
Espinho, Elefante Editores, 1997
Edgar Carneiro,
Antologia Poética,
Espinho, Elefante Editores, 1998
Manuela Correia,
As Nuvens Não São Mais de Algodão,
Espinho, Elefante Editores, 2000
José Fial,
Na Melhor das Intenções,
(apresentação, selecção e organização dos textos)
Santa Maria da Feira, LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2006
Gilberto Pereira,
Reticências,
Ed. de autor, 2009
LIVROS DIDÁCTICOS publicados em co-autoria:
Texto/Textos,
(Alunos supletivos)
Porto, Edições ASA, 1983
Tapete Mágico 1,
(5.º ano)
Porto, Porto Editora, 1985
Tapete Mágico 2,
(6.º ano)
Porto, Porto Editora, 1986
Caminhar 1,
(5.º ano - Cabo Verde)
Porto, Porto Editora, 1986
Caminhar 2,
(6.º ano - Cabo Verde)
Porto, Porto Editora, 1987
Voz Activa 1,
(5.º ano)
Porto, Porto Editora, 1992
Voz Activa 2,
(6.º ano)
Porto, Porto Editora, 1993
Gira Gira,
(5.º ano)
Porto, Porto Editora, 1996
Anthero Monteiro: nota biográfica
Anthero Monteiro
coordenando uma
sessão de poesia no
restaurante Telegrapho,
no Palácio da Bolsa
Anthero Monteiro nasceu na vila de S. Paio de Oleiros, concelho de Santa Maria da Feira, em 1946.
Estudou na Congregação do Espírito Santo, em Viana do Castelo e em Braga, e concluiu os seus estudos secundários no Liceu Nacional de Aveiro.
Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Fez o Mestrado em Estudos Portugueses, na Universidade de Aveiro e publicou, na Roma Editora, de Lisboa, a respectiva dissertação – O Misticismo Laico de Manuel Laranjeira.
Foi, durante oito anos, funcionário dos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Começou a lecionar Língua Portuguesa e Francês na Escola Preparatória, actual E.B. 2/3 Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira.
Foi, durante dois anos, orientador-delegado de estágios no Gabinete de Português da Direção-Geral do Ensino Básico, no Porto.
Prosseguiu a vida docente, até final da carreira, na Escola E. B. 2/3 Sá Couto, em Espinho.
Foi coordenador, durante cerca de 10 anos, na zona norte e centro do país, de uma experiência pedagógica, denominada ICAV – Iniciação à Comunicação Audiovisual.
Foi formador de docentes na área da Didática Específica de Língua Portuguesa, em vários centros de formação de professores (Santa Maria da Feira, Porto, Espinho, Oliveira de Azeméis e outros).
Publicou, em coautoria, oito manuais de Língua Portuguesa para o 2.º Ciclo do Ensino Básico, no nosso país e em Cabo Verde (Editorial ASA e Porto Editora).
Colaborou ainda num dicionário de língua portuguesa (Porto Editora).
Escreveu, para publicações da especialidade, nomeadamente a revista Escola Democrática, o boletim IC da Direção-Geral do Ensino Básico e a revista Voz Activa do Centro de Formação das Escolas de Espinho, vários artigos de índole pedagógico-didáctica e ensaios literários. Destaquem-se ainda: «O Estereótipo na Comunicação» na revista Colóquio – Educação e Sociedade, da Fundação Calouste Gulbenkian, o ensaio «O Monstro-Barão, a Bela Adormecida e a Rosa Mística» na revista Forma Breve, da Universidade de Aveiro, além de vários ensaios publicados em O Primeiro de Janeiro e apontamentos sobre história local no jornal Diálogo e na revista Villa da Feira, da Liga dos Amigos da Feira.
Foi fundador e, durante dez anos, diretor do jornal regional Diálogo, da sua terra natal. Dirige há cerca de trinta e oito anos, a Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros, onde organizou colóquios, feiras do livro, encontros com escritores, visitas de escolas, sessões de cinema e de poesia e muitas outras iniciativas culturais.
Colaborou em vários periódicos regionais dos concelhos da Feira, Espinho e Ovar.
É supervisor editorial e gráfico da revista Villa da Feira, da LAF - Liga dos Amigos da Feira, onde publica assiduamente poemas e ensaios de cultura e história local.
No âmbito da Poesia, viu inseridos poemas seus, desde os 13 anos de idade, em vários jornais, só tendo publicado, porém, o seu primeiro livro em 1997.
Consta do Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa — O Livro É Uma História com Boca —, organizado pelo Instituto Piaget.
Consta também da Antologia Poetrix n.º 1, publicada no Brasil pela Editora Scortecci, em 2002, e na Antologia Poetrix n.º 3, da Livro.com, também no Brasil. Na modalidade de poetrix, viu poemas seus ficarem em primeiro lugar nos concursos realizados a nível internacional nos anos de 2002 e 2003. Foi, aliás, o primeiro autor a lançar um livro de poetrix em Portugal e na Europa - Esta Outra Loucura.
Faz parte ainda da antologia Histórias e Poemas para Pessoas Pequenas, da Porto Editora, coordenada por José António Gomes, com ilustrações de Maria Ferrand.
Consta também do Projecto Vercial, “a maior base de dados sobre a Literatura Portuguesa”.
Foi membro dirigente da Associação de Escritores de Gaia.
É responsável pela organização de várias tertúlias poéticas, nomeadamente: a Onda Poética, que iniciou, há cerca de 17 anos, as suas sessões na livraria Livramar, em Espinho, tendo passado, com a extinção da mesma, para a Biblioteca Calouste Gulbenkian daquela cidade, pouco tempo depois, para o Bar Dominó do Casino de Espinho, depois ainda para a sala das sessões da Junta de Freguesia de Espinho e finalmente, para a Biblioteca Municipal Dr. José Marmelo e Silva, de Espinho; o Quarto Crescente, iniciativa da Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros, atualmente denominado Magnólia; e as Quartas Mal Ditas que se realizaram, durante 3 anos, no Clube Literário do Porto, entretanto encerrado. Participou regularmente noutras tertúlias e recitais de poesia, designadamente nas noites poéticas do Pinguim, no Restaurante Telégrafo do Palácio da Bolsa, no Museu Soares dos Reis, no Café Piolho, nos Sentidos Grátis, em várias Juntas de Freguesia, bibliotecas, bares e restaurantes. Abriu durante cerca de uma década as noites de poesia do Púcaro´s Bar, nas arcadas de Miragaia, junto à Alfândega do Porto, todas as quartas-feiras, encerrado também com o falecimento do proprietário.
Escreveu vários prefácios ou notas introdutórias em livros de outros autores e fez a apresentação pública de vários livros de poesia, de ficção e de ensaio.
Participou em múltiplos colóquios, acções de formação e seminários pedagógico-didácticos, literários ou linguísticos, realizados em Portugal (Lisboa, Porto, Coimbra, Vila Real, Caldas da Rainha, Portalegre, Funchal, Angra do Heroísmo, etc.) e em França (Grenoble, Bordéus e Périgueux), para além de dezenas de escolas de todo o país.
Integrou uma linha de investigação sobre Anticlericalismo na Universidade de Aveiro, tendo participado em seminários sobre o tema e publicado os respectivos textos em revistas da mesma Universidade.
Tem integrado o júri de vários concursos literários realizados em Portugal e no Brasil.
É sócio honorário do Grupo Musical de S. Paio de Oleiros ("Tuna"), «devido a serviços relevantes prestados à coletividade» e, ainda da LAF - Liga dos Amigos da Feira, também "pelos serviços prestados" e pela "forma como se tem dedicado à Poesia, Ensaio, Investigação, Jornalismo, Dinamização Cultural em Tertúlias e Saraus, Declamação, Apresentação de Livros e como Diretor da Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros".
Foi galardoado com o Prémio Manuel Laranjeira na sua edição de 2004.
Em 2015, recebeu a Medalha de Ouro de Mérito Grau Máximo da Vila de S. Paio de Oleiros, sua terra de nascimento e de residência, na categoria de "Dirigente Associativo no ativo, pelas décadas de trabalho desenvolvido no Associativismo Local, sobretudo na Presidência da Direção da Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros.
Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Fez o Mestrado em Estudos Portugueses, na Universidade de Aveiro e publicou, na Roma Editora, de Lisboa, a respectiva dissertação – O Misticismo Laico de Manuel Laranjeira.
Foi, durante oito anos, funcionário dos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Começou a lecionar Língua Portuguesa e Francês na Escola Preparatória, actual E.B. 2/3 Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira.
Foi, durante dois anos, orientador-delegado de estágios no Gabinete de Português da Direção-Geral do Ensino Básico, no Porto.
Prosseguiu a vida docente, até final da carreira, na Escola E. B. 2/3 Sá Couto, em Espinho.
Foi coordenador, durante cerca de 10 anos, na zona norte e centro do país, de uma experiência pedagógica, denominada ICAV – Iniciação à Comunicação Audiovisual.
Foi formador de docentes na área da Didática Específica de Língua Portuguesa, em vários centros de formação de professores (Santa Maria da Feira, Porto, Espinho, Oliveira de Azeméis e outros).
Publicou, em coautoria, oito manuais de Língua Portuguesa para o 2.º Ciclo do Ensino Básico, no nosso país e em Cabo Verde (Editorial ASA e Porto Editora).
Colaborou ainda num dicionário de língua portuguesa (Porto Editora).
Escreveu, para publicações da especialidade, nomeadamente a revista Escola Democrática, o boletim IC da Direção-Geral do Ensino Básico e a revista Voz Activa do Centro de Formação das Escolas de Espinho, vários artigos de índole pedagógico-didáctica e ensaios literários. Destaquem-se ainda: «O Estereótipo na Comunicação» na revista Colóquio – Educação e Sociedade, da Fundação Calouste Gulbenkian, o ensaio «O Monstro-Barão, a Bela Adormecida e a Rosa Mística» na revista Forma Breve, da Universidade de Aveiro, além de vários ensaios publicados em O Primeiro de Janeiro e apontamentos sobre história local no jornal Diálogo e na revista Villa da Feira, da Liga dos Amigos da Feira.
Foi fundador e, durante dez anos, diretor do jornal regional Diálogo, da sua terra natal. Dirige há cerca de trinta e oito anos, a Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros, onde organizou colóquios, feiras do livro, encontros com escritores, visitas de escolas, sessões de cinema e de poesia e muitas outras iniciativas culturais.
Colaborou em vários periódicos regionais dos concelhos da Feira, Espinho e Ovar.
É supervisor editorial e gráfico da revista Villa da Feira, da LAF - Liga dos Amigos da Feira, onde publica assiduamente poemas e ensaios de cultura e história local.
No âmbito da Poesia, viu inseridos poemas seus, desde os 13 anos de idade, em vários jornais, só tendo publicado, porém, o seu primeiro livro em 1997.
Consta do Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa — O Livro É Uma História com Boca —, organizado pelo Instituto Piaget.
Consta também da Antologia Poetrix n.º 1, publicada no Brasil pela Editora Scortecci, em 2002, e na Antologia Poetrix n.º 3, da Livro.com, também no Brasil. Na modalidade de poetrix, viu poemas seus ficarem em primeiro lugar nos concursos realizados a nível internacional nos anos de 2002 e 2003. Foi, aliás, o primeiro autor a lançar um livro de poetrix em Portugal e na Europa - Esta Outra Loucura.
Faz parte ainda da antologia Histórias e Poemas para Pessoas Pequenas, da Porto Editora, coordenada por José António Gomes, com ilustrações de Maria Ferrand.
Consta também do Projecto Vercial, “a maior base de dados sobre a Literatura Portuguesa”.
Foi membro dirigente da Associação de Escritores de Gaia.
É responsável pela organização de várias tertúlias poéticas, nomeadamente: a Onda Poética, que iniciou, há cerca de 17 anos, as suas sessões na livraria Livramar, em Espinho, tendo passado, com a extinção da mesma, para a Biblioteca Calouste Gulbenkian daquela cidade, pouco tempo depois, para o Bar Dominó do Casino de Espinho, depois ainda para a sala das sessões da Junta de Freguesia de Espinho e finalmente, para a Biblioteca Municipal Dr. José Marmelo e Silva, de Espinho; o Quarto Crescente, iniciativa da Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros, atualmente denominado Magnólia; e as Quartas Mal Ditas que se realizaram, durante 3 anos, no Clube Literário do Porto, entretanto encerrado. Participou regularmente noutras tertúlias e recitais de poesia, designadamente nas noites poéticas do Pinguim, no Restaurante Telégrafo do Palácio da Bolsa, no Museu Soares dos Reis, no Café Piolho, nos Sentidos Grátis, em várias Juntas de Freguesia, bibliotecas, bares e restaurantes. Abriu durante cerca de uma década as noites de poesia do Púcaro´s Bar, nas arcadas de Miragaia, junto à Alfândega do Porto, todas as quartas-feiras, encerrado também com o falecimento do proprietário.
Escreveu vários prefácios ou notas introdutórias em livros de outros autores e fez a apresentação pública de vários livros de poesia, de ficção e de ensaio.
Participou em múltiplos colóquios, acções de formação e seminários pedagógico-didácticos, literários ou linguísticos, realizados em Portugal (Lisboa, Porto, Coimbra, Vila Real, Caldas da Rainha, Portalegre, Funchal, Angra do Heroísmo, etc.) e em França (Grenoble, Bordéus e Périgueux), para além de dezenas de escolas de todo o país.
Integrou uma linha de investigação sobre Anticlericalismo na Universidade de Aveiro, tendo participado em seminários sobre o tema e publicado os respectivos textos em revistas da mesma Universidade.
Tem integrado o júri de vários concursos literários realizados em Portugal e no Brasil.
É sócio honorário do Grupo Musical de S. Paio de Oleiros ("Tuna"), «devido a serviços relevantes prestados à coletividade» e, ainda da LAF - Liga dos Amigos da Feira, também "pelos serviços prestados" e pela "forma como se tem dedicado à Poesia, Ensaio, Investigação, Jornalismo, Dinamização Cultural em Tertúlias e Saraus, Declamação, Apresentação de Livros e como Diretor da Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros".
Foi galardoado com o Prémio Manuel Laranjeira na sua edição de 2004.
Em 2015, recebeu a Medalha de Ouro de Mérito Grau Máximo da Vila de S. Paio de Oleiros, sua terra de nascimento e de residência, na categoria de "Dirigente Associativo no ativo, pelas décadas de trabalho desenvolvido no Associativismo Local, sobretudo na Presidência da Direção da Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros.
Agora sim
Anthero Monteiro
(Foto Elias Moreira)
depois dos meus esforços e promessas
sem obter qualquer resultado
os olhos das outras cabeças
olham-me enfim de um modo diferente
já todos concordam porque é evidente
que agora está tudo mudado
------ agora sim sou um rapaz atilado
deixei de andar para aí sem direcção
completamente desnorteado
ganhei enfim uma outra dimensão
este sossego como nunca tive
esta calma tão sábia de ser livre
embora ao mesmo tempo aprisionado
------ agora sim sou um rapaz atilado
deixei de andar a vociferar pelo mundo
que a vida é isto de ser-se arrastado
arrastando um sonho infecundo
e que o sonho não é nada etéreo
é afinal um problema sério
um fardo terrivelmente pesado
------ agora sim sou um rapaz atilado
atolado num verdadeiro sono
curei pra sempre aquele mal danado
a insónia a obsessão o abandono
a ânsia sem limite o nojo o tédio
achei enfim o único remédio
estou completamente curado
------ agora sim sou um rapaz atilado
sem medo vêm ver-me bem de perto
pacífico entre tábuas apertado
já nem sequer protesto contra o aperto
eu que toda a vida esbravejei
pela liberdade e contra a cegueira da lei
aceito tudo isto com agrado
------ agora sim sou um rapaz atilado
e assim vencido este terrível bicho
peguem em mim e atirem-me ao lixo
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
À espera
In
www.oneyearbibleblog.com
à espera impaciente
à porta da saída
que se te abrisse o ventre
e que eu saudasse a vida
cá fora os circunstantes
longos meses à espreita
ansiosos expectantes
fugindo à má suspeita
e tudo decorrera
tal qual como o previsto
e no que deu a espera?
foi tão-somente nisto!
aliás bem agoureiro
o meu primeiro grito
foi o indício primeiro
da sorte do proscrito
à espera sempre à espera
a nossa vida toda
que venha uma outra era
ou que inventem a roda
à espera do doutor
do carteiro e da carta
dum gesto redentor
do raio que nos parta
à espera da chamada
ou do esquecimento
duma qualquer cartada
ou do arrependimento
à espera da bebida
do café ou do uísque
de quem nos salve a vida
de quem por nós se arrisque
sempre à espera da noite
de um comboio na gare
ou de alguém que se afoite
e que se nos declare
à espera de vénus
do sol da lua cheia
à espera dos acenos
de alguma deusa ateia
à espera de uma praia
onde tires a blusa
onde deixes a saia
sem a menor recusa
e de que eu já descrente
não tenha outra saída
senão ver finalmente
a terra prometida
à espera da maré
duma onda ou de um peixe
que sobrevenha a fé
ou que outra fé nos deixe
à espera do messias
da virgem impoluta
ou do profeta elias
ou de um filho da puta
à espera que algo nasça
ou que algo faça efeito
ou então da desgraça
que leve tudo a eito
à espera que uma bomba
com mil garras de lume
nos rebente na tromba
e nos devolva ao estrume
disso é que eu ando à espera
e que não esqueci nunca
que venha a bruta fera
e a sua garra adunca
o caixão e o verme
o coval e a formiga
e eu ali tão inerme
sem nada que vos diga
depois à espera enfim
há quem nisso acredite
que eu me regresse a mim
que todo ressuscite
que junte ao tronco os braços
as minhas pernas fartas
todos os meus pedaços
comidos p’las lagartas
ah falta-me a cabeça
por muito que lhe custe
que ela aqui compareça
pra completar o embuste
vou esperá-la aflito
pois é-me imprescindível
p´ra encarar o infinito
cheirar o indizível
preciso pois do ouvido
e destes olhos meus
para ouvir o grunhido
ver a sombra de deus
quero principalmente
a boca escancarada
p’ra nas barbas desse ente
dar uma gargalhada
Anthero Monteiro (inédito)
Porto/S. Paio de Oleiros, 27/04/06
domingo, 30 de agosto de 2009
Trouxas-de-ovos
In
cakesbelo.blogspot.com
o estrata-
gema
da Clara
Anthero Monteiro
(poetrix inédito)
-----------------
Já aqui falámos muitas vezes de poetrix, aquela linguagem minimalista, que tem já milhares de cultores em todos os continentes e que foi criada pelo poeta baihano Goulart Gomes, inspirado nos haikai japoneses, deles diferindo apenas porque, sendo também tercetos, possuem ainda um título.
A riqueza do poetrix está muitas vezes na multiplicidade de interpretações possíveis.
Ocorre-me a propósito aquele miniconto do guatemalteco Augusto Monterroso, que é considerado o mais curto do mundo e que, no entanto, tem originado inúmeros estudos e mesmo teses universitárias:
Cuando despertó, el dinosaurio todavía estaba allí.
E a tradução, para que não restem dúvidas sobre o significado daquele "todavía":
Quando despertou, o dinossauro ainda estava ali.
Saiam também longos estudos sobre estas "trouxas-de-ovos", que eu gostaria fossem deliciosas, para que a Clara consiga mais facilmente os seus intentos...
sábado, 29 de agosto de 2009
TERRAS DA FEIRA entrevista Anthero Monteiro
domingo, 23 de agosto de 2009
Poesia na RTV
sábado, 22 de agosto de 2009
Automóvel
In projecto
O Animal e a Selva,
V. N. Gaia, Alvacar 1982/2002
a noite e a distância
são o teu pasto de besta esfaimada
uivas para as ursas
e devoras as estrelas dos caminhos
persegues o fogo dos teus próprios olhos
e o sonho dos domadores de eternidades
o lince mal cata os teus rugidos
socorre-se do fojo das trevas
e desaparece nas cumeadas de outrora
em terra de lince
quem tem os teus olhos
não é apenas rei
impera
e dita
dor
Anthero Monteiro, in projecto O Animal e a Selva,
V. N. Gaia, Alvacar 1982/2002
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Ovelhas
Élio Oliveira,
David sinaleiro
(ou Alvacar 1),
técnica mista
sobre tela, 2001
Passavam longamente pelo carreiro
e faziam o mesmo trajecto
das enxurradas
corriam para o lado do mar
à procura de um mar verde
de erva
era um rebanho-centopeia
que o pastor levava preso ao assobio
mas o carreiro tinha a mania das grandezas
engordou engordou
à força de alcatrão
o pastor mudou de profissão
só ficou com o vício
do assobio
agora é sinaleiro
e lá vai pastoreando
o rebanho interminável
dos automóveis
Anthero Monteiro, in projecto O Animal e a Selva,
V. N. Gaia, Alvacar 1982/2002
-----------------
Há quanto tempo não vejo um polícia sinaleiro!... Mas, quando escrevi o poema (1999?), ainda os havia em Portugal...
Foi publicado nesse ano in A Lia Que Lia Lia, dirigido aos mais jovens (porque não aos demais?)
Sonho
Elio Oliveira,
Os deuses fizeram-me para sonhar (ou alvacar 3),
técnica mista sobre tela, 2001
(inspirado no poema)
por mais que te escapes
não te escapas do meu sonho
por mais faróis que acendas
é o meu sonho quem ilumina o teu caminho
foste o círculo primevo guardado no rochedo
ao lado dos equídeos
e tornaste-te o quadrúpede submisso e diligente
que afeiçoa a corcova
ao meu sonho de comodidade
ainda há pouco rastejavas
feito lagarta belicosa
dos que adoram os vermes tão próximos do chão
mas já te ergues sobranceiro
tapete entretecido de sonhos orientais
mais penetrante e candente do que o lume das águias
acelera
mas por mais que aceleres
agarra-te bem ao meu pensamento lembra-te
que nasceste para me obedeceres e seguires
a mim
os deuses fizeram-me para sonhar
e esqueceram-se do travão
Anthero Monteiro, in projecto O Animal e a Selva,
V. N. Gaia, Alvacar 1982/2002
---------------------
O poema intenta contar em traços largos a história do automóvel.
Foi escrito expressamente para a comemoração, em 2002,
dos 20 anos da Alvacar do meu amigo Álvaro Sabença.
Os deuses fizeram-me para sonhar (ou alvacar 3),
técnica mista sobre tela, 2001
(inspirado no poema)
por mais que te escapes
não te escapas do meu sonho
por mais faróis que acendas
é o meu sonho quem ilumina o teu caminho
foste o círculo primevo guardado no rochedo
ao lado dos equídeos
e tornaste-te o quadrúpede submisso e diligente
que afeiçoa a corcova
ao meu sonho de comodidade
ainda há pouco rastejavas
feito lagarta belicosa
dos que adoram os vermes tão próximos do chão
mas já te ergues sobranceiro
tapete entretecido de sonhos orientais
mais penetrante e candente do que o lume das águias
acelera
mas por mais que aceleres
agarra-te bem ao meu pensamento lembra-te
que nasceste para me obedeceres e seguires
a mim
os deuses fizeram-me para sonhar
e esqueceram-se do travão
Anthero Monteiro, in projecto O Animal e a Selva,
V. N. Gaia, Alvacar 1982/2002
---------------------
O poema intenta contar em traços largos a história do automóvel.
Foi escrito expressamente para a comemoração, em 2002,
dos 20 anos da Alvacar do meu amigo Álvaro Sabença.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Inventário final
e ficou-me de herança esta fortuna
o sal das tuas mãos a mágoa agreste
esta grilheta com que me prendeste
a navalha da espera e da lacuna
o mapa dos lugares que foram nossos
e as arcas de tesouros desventradas
as horas que vivemos e são nadas
a carne usufruída só destroços
um profundo remorso indefinido
de nenhum crime salvo a louca entrega
o silêncio gritante que me verga
o sentido de tudo sem sentido
o buraco da estrela que é negrume
no sítio das colinas as crateras
o eco tão longínquo do que eras
o cilício pungente do ciúme
aquele aroma apodrecido agora
que enfeitiçou os meus caminhos todos
e vivia na graça dos teus modos
e emurcheceu nas teias da demora
o torpor de tritão que me atravessa
o gorgulho de um tédio quase insano
a traça estracinhando o íntimo pano
este verme por dentro da cabeça
falto de ti recompensou-me a sorte
dono apenas de trevas e vazio
saúdo o derradeiro calafrio
pois nada custa repetir a morte
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corp0s Editora, 2009 , 2.ª ed.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Por sobre esta náusea
Por sobre esta náusea
a raiva das nuvens
brandindo uma espada
de rápido lume
gargalhadas roucas
rolam do olimpo
e eu entrego à boca
o morto cachimbo
e aqui fico à espera
nesta hora lenta
que um raio qualquer
o cachimbo acenda
e me faça o obséquio
num só golpe assim
de matar meu tédio
e matar-me a mim
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
a raiva das nuvens
brandindo uma espada
de rápido lume
gargalhadas roucas
rolam do olimpo
e eu entrego à boca
o morto cachimbo
e aqui fico à espera
nesta hora lenta
que um raio qualquer
o cachimbo acenda
e me faça o obséquio
num só golpe assim
de matar meu tédio
e matar-me a mim
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
Poema inútil
escrevo este poema com a fúria
de quem invectiva inutilmente o mar
e olho a noite pela janela do tédio
em busca de uma qualquer nebulosa
que me esconda no burel da sua comiseração
apedrejo os astros com fundas de ironia
até ao lodo profundo da madrugada
e finalmente recosto a cabeça
na cinza de um cachimbo a rescender a quimeras
aspiro os insectos de luz e incendeio-me por dentro
até iluminar todos os recessos da alma
e fazê-la fugir de vergonha de dentro de mim mesmo
depois é ver-me esmagado
verme esmagado
e deixar-me ficar a apodrecer
no caroço da eternidade
já sem voz nem canto nem vagalume de anseio
feito apenas um grito incessante um ténue estertor
coberto pelo zumbido do globo
e pelo gonzos enferrujados dos continentes
escrevo esta poalha que o simum dispersará
pelas areias entre as pinças de um escorpião
não espero glória nenhuma
nem o teu beijo
meu desamor
me há-de premiar
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
Poema dos braços inúteis
agora só tenho braços
para cruzar perante o irremediável
ou segurar esta ânsia de chão
que me comprime a nuca
souberam guardar tesouros imperecíveis
velar o sorriso por dentro do teu sono
e a nebulosa que te faz sonhar
julgaram preservar dos cardos
a seda do teu suave existir
empreenderam mil lances de aventura
detiveram o emurchecer das tardes
e pelas noites turvas solitárias
ansiaram a enseada do teu peito
foram escrínios de algum sibarita
lianas trepadeiras e gavinhas
apetecidos tentáculos
deles voaram aves peregrinas
como dos bolsos dos ilusionistas
fizeram brotar fontes em lugares
secretos do teu corpo ou da tua alma
ambos donos do mesmo lago
ambos perdidos na mesma água
esbracejámos na aflição do prazer
para mais depressa soçobrarmos
de que servem agora
os braços e estas mãos e estes dedos
e quem foi dono deles e sonhou
de ti ser dono ao menos uma tarde
uma efémera tarde como quando
julguei possuir o mar e a eternidade
só por ter nos meus braços os teus braços?
o mar que me cuspiu nos olhos míopes
não quer ser possuído mas possuir-me
e a eternidade lenta e paciente
já me exige o meu corpo mutilado
dos braços
dos abraços
e de ti
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Todos os momentos são históricos
escrevo um poema que não muda a história
rasgo um velho retrato de família
desenho um gesto ousado ou mesmo insólito
uso no rosto a mesma velha mímica
e sem pensar em nada limpo os óculos
mas todos os momentos são históricos
não desço à rua fico só no átrio
não bato à porta bate a porta dúbia
olho no espelho a minha imagem flácida
e contenho no peito a minha fúria
e contenho na carne dons eróticos
mas todos os momentos são históricos
bocejo para o tempo da intempérie
espero até que tudo esteja nítido
e também faço férias nestas férias
ouvindo ao longe o mar lúgubre e rítmico
ou uns vagos zumbidos talvez cósmicos
mas todos os momentos são históricos
digo algumas palavras transitórias
discordo mas apenas num murmúrio
opero dez mudanças mas teóricas
levanto-me já tarde sou o último
e sento-me inda tonto dos narcóticos
mas todos os momentos são históricos
dou quatro passos não ganho distância
mas ganho a náusea ganho um ténue tédio
apenas sei onde ferrar a âncora
neste porto de areias e de efémero
onde estar meramente é já uma glória
mas todos os momentos são históricos
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Partida
Juca Rocha (à frente)
e José Carlos Tinoco (atrás)
entre os demais elementos
do colectivo "Musa ao Espelho"
in Portal Municipal
da Póvoa do Varzim
(à memória de Juca Rocha e
para José Carlos Tinoco)
finalmente o pianista disse
tocar sempre também cansa
agora é a vossa vez
e partiu
ficámos todos à procura dos dedos
mas as mãos eram apenas
punhos compactos de raiva
um violoncelo afoitou-se
a escavar o silêncio
para sugar-lhe as lágrimas
um saxofone ergueu a cabeça animal
e ganiu gutural uma alegria amarga
os poemas deram as mãos às canções
aos soluços e ao júbilo inventado
perante o sorriso aquiescente do ausente
na hora de descer ou subir ao infinito
os seus dedos alheios às teclas
ou um pé de vento súbito
desencadearam arpejos nas cordas íntimas do piano
foi então que reachámos os dedos e as mãos
para o último e reconhecido aplauso
24 Março 2008
Anthero Monteiro, in Revista Villa da Feira n.º 19
O peso da cabeça
minha cabeça pesa
vai-me cair ao chão
e o peso vou sustê-lo
na palma desta mão
forçando o cotovelo
de espera ou de cansaço
de fome ou de tristeza
há-de ceder-me o braço
de tanto que ela pesa
no silêncio de um grito
adora o infinito
mas procura-o no lodo
minha cabeça pende
(sinto-me bem? ou mal?)
minha cabeça tende
a pôr-me o corpo todo
sobre a horizontal
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
________
Certo dia, fui ao médico e, quando me perguntou de que me queixava, pedi licença para ler apenas este poema...
Testamento
se eu morrer amigos
tentarei compensar-vos do susto
não da minha morte
mas desta conjunção condicional
sejamos razoáveis
quando eu morrer
deixo-vos a totalidade dos meus bens e dos meus males
deixo-vos também o melhor fato
será desnecessário vestirem-mo
muito menos estrangular-me com a gravata de seda
estrangulado estou eu
acho mesmo que vivi estrangulado a vida toda
fique o guarda-fatos ao vosso inteiro dispor
e os sete pares de sapatos e as escovas
e os anéis e os emblemas que me recusei a usar
não precisarei sequer de um lenço branco
para o último dos adeuses
adeuses foi o que eu andei sempre a acenar
aos instantes e aos dias
a todos os que amei a tudo o que amei e não devera amar tanto
porque amar é a melhor maneira de ir semeando desertos
será escusado colocarem-me enchumaços de papel
para levantar os ombros ou nivelar os pés
porque iriam preocupar-se com a estética
agora que é tão tarde e tão inútil
para quem vai a descer de nível para sempre?
para além do mais
deixo-vos um pouco mais de espaço
não vos deixo a paz
mas deixo-vos em paz
e não precisareis mais de atender aos meus argumentos
porque então levarei comigo a razão para sempre
deixo-vos o mundo e todos os mundos e imundos por descobrir
e todos os paradoxos e problemas e enigmas
mas não vos deixo as soluções
pois só as encontrarei do outro lado do espelho
e vou precisar delas para ser feliz
deixo-vos os sonhos e os pesadelos e as insónias
prometo então dormir sem sobressaltos
e sem aquela obsessão de roubar as horas às madrugadas
com o que apenas consegui apressar a minha morte
deixo-vos o bafio das monotonias
o bolor do tempo e as tardes apodrecidas
os ciclos permanentes da água e do sol
a lei dos graves e as grávidas
cuspindo os nados-mortos que já somos
deixo-vos as cidades espezinhadas e mil penachos de fumo
o urro das multidões esfaimadas e defraudadas
os gatilhos para os dedos frenéticos
os arsenais repletos de loucura
os ditadores os que assumem o seu despotismo
e os que se escondem atrás de estátuas de liberdade
incluindo os chefes minúsculos aos berros maiúsculos
deixo-vos a herança sempre renovada
do homem lobo do homem
apostado em encher as páginas da história de façanhas
repetidas desde a caótica harmonização do caos
deixo-vos pois essa oportunidade de continuarem
a construir a destruição
para além da razão e das soluções agora garantidas
para além da sombra que me pertence
deixem que leve apenas comigo algumas vagas lembranças
talvez uns olhos miúdos de esperança inundados
talvez aquele sorriso que foi o mais aconchegante dos abraços
talvez a sangria do ocaso precedendo o desmaio do dia
talvez as volutas voluptuosas dos violinos
e as espirais e devaneios do fumo do cigarro
e as fantasias das revoadas das pombas sobre os telhados
e todas as outras sinuosidades
incluindo as dos meus erros na vida
que foi a minha única maneira de aprender a caminhar
deixo-vos um montão de poemas
para a leitura sôfrega das labaredas
deixo-vos um pouco mais de esterco
para as seivas da insanidade
deixo-vos os mesmos deuses mudos e sectários
que me deixaram a mim
deixo-vos a minha bandeira azul e a rubra e a verde
que nada construíram
deixo-vos a chuva companheira de toda as minhas glórias
deixo-vos deixo-vos deixo-vos
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª edição
-----------
Tal como o poema "Controvérsia", este constaria também infalivelmente de uma antologia organizada por mim da minha própria obra: é o "meu" poema predilecto.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Só porque
Pintura de
Margarida Lima
inspirada em
Canto de Encantos
e Desencantos,
aquando do
lançamento da
1.ª edição
(1997)
Só porque tu existes
(e é sempre tempo de descobrir uma nova galáxia)
equilibro nas mãos o mar e o céu
e sou descuidado funâmbulo
sobre o fio do horizonte
Só porque tu existes
(e existes cada vez mais dentro de mim)
a vida desabrochou púrpura
o meu sangue deu cor às rosas
e as rosas despertam as almas dos violinos
Só porque tu existes
(quem me tirou as escaras dos olhos?)
basta-me este allegro moderato
para que fique completa
a inacabada sinfonia de Schubert
Só porque tu existes
(e é inenarrável ver-te existir)
passei também eu a amar-me
por ser belo quem ama a beleza
por ser bom quem ama a bondade
por não ter idade quem ama a juventude
e esconde no coração finito
o que é incomensurável
Só porque tu existes
(sim só porque tu existes)
a ternura saltou a margem do peito
as lágrimas romperam o dique
e em ondas vêm arrojar-se aos teus pés
de repente ajoelhadas
gratamente submissas
Anthero Monteiro, Canto de Encantos e Desencantos,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2005, 2.ª edição
Controvérsia
Reprodução de
desenho da
1.ª edição (1997)
da autoria de
Carmo Sousa
Pinto
Bem sei que o breve tempo da tua presença
é a maior de todas as minhas glórias
que o esboço do teu sorriso
é um sol estival e festivo
que um minúsculo gesto dos teus
abre o mar e os raios suspende
que o mais ténue dos teus cabelos
é amarra do meu navio
O oftalmologista sabe das minhas perturbações de visão
e os estilistas dão-lhe o nome de hipérbole
Bem sei que todas as estrelas lucilam
inquietas dentro destes olhos
e que as nuvens do sono as não apagam
Os ponteiros do relógio caminham trôpegos
mas há ponteiros desvairados na máquina que sou
que apontam para ti a cada segundo
que a cada segundo me despertam e alarmam
que a cada segundo gritam o mesmo nome sem tréguas
como se fossem os galos da alvorada
Todos os médicos estão de acordo:
isto não passa de uma insónia permanente
e o stress anda a minar-me os labirintos
Bem sei que perscruto o horizonte com olhos indefinidos
que os outeiros copiaram a forma dos teus seios
que as árvores se emaranharam nos teus cabelos
que o mar se espraia no teu olhar
que as linhas da tua mão esplendem na Cassiopeia
que os teus dedos espalham na vida os nocturnos de Chopin
que a tua cinta se requebra nos caprichos do vento
que o teu andar diáfano caminha com as tardes translúcidas
Há muito que Freud me explicara
que a lapa da obsessão se cravou na minha alma
Bem sei que tenho outra compostura
desde que aos meus olhos de dentro te revelaste
mas é que há em todas as coisas
sucursais do teu penetrante olhar
e eu quero que me vejas belo e magnânimo
bom e cordato justo e indulgente
ao menos desbotada imagem do teu fulgor
Dizem que são reminiscências duma moral esquecida
escrúpulos de volta aos meus ditames
Bem sei que agora mesmo
(deixa-me só concluir o meu poema)
não me importava de morrer
amarfanhado como uma pétala nas tuas mãos
sim desde que fossem as tuas
e ser em breve o almo húmus
donde brotassem nitentes magnólias à tua porta
Não me importava de beber o mar profundo
desde que fosse a tua suavidade
a empurrar-me para o abismo
Consta que é apenas velhice
este ter passado os dedos nas mil camândulas
do rosário de enganos e desenganos
que nos traz esta ânsia de não-ser
Todos terão razão Provavelmente
decidirão que nada disto é amor
Opinarão que vim de outra galáxia a cavalo de um meteoro
com estranhos ritos e palavras extravagantes
dulcíloquas mas previamente gravadas
Pensarão que os meus olhos hão-de estalar
que estas insónias só terão cura no sono da morte
que esta obsessão me levará ao convívio com os doidos
que estes escrúpulos serão o revólver do meu suicídio
que da minha campa só nascerão pedras e nunca magnólias
Pronunciem-se todos os sábios e psicólogos
conjecturem todos os analistas
julguem-me todos os juízes (e tantos são)
condenem-me e enforquem-me por impostor
A mim só me interessa o teu veredicto
Se me sorrires como só tu sabes
é porque é inelutável esta verdade:
Afinal
outra coisa não sei que não seja amar-te
Anthero Monteiro, Canto de Encantos e Desencantos,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2005, 2.ª edição
_______
Deixem-me continuar a gostar muito deste poema...
e a incluí-lo na minha antologia pessoal
entre os cinco melhores (de Anthero Monteiro, claro).
Assim não têm que me apontar qualquer imodéstia...
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Longe
Hoje preciso da fronde dos teus cabelos
para substituir estas árvores doentes
Não sei bem se é a tua imagem
se o teu nome
se as palavras dos meus versos sobre ti
que chamo para se sentarem ao meu lado
É que já não tenho forças
para levantar esta mágoa de dentro da pele
e içar os meus passos até aí
Limito-me com estar longe
o que é um bom lenitivo
para quem não pode tocar-te
Anthero Monteiro, Canto de Encantos e Desencantos,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2005, 2.ª edição
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