terça-feira, 11 de agosto de 2009

Meia-noite








Foto in
portodaspipas.blogs.sapo.pt










Meia noite ----- e cinco
horas mais provavelmente
até que algo me vença:
o cansaço de um dia dilatado
prolongado para além de si mesmo
ora à espera ora à procura
os olhos enfermos de miragens
as mãos feitas prece
como todas as mãos vazias
o silêncio doendo
na busca do teu cálido riso
a paisagem ferida
da mágoa da tua ausência

Só sei que os dias não têm sentido nenhum
comprimidos em vinte e quatro horas
Só sei que a lua fátua convocou os astros
para a vigília festiva
e não há nada para comemorar
Só sei que o intruso do vento
semeia segredos
e não há segredos nenhuns para contar
Só sei que os astros convivem
nas suas constelações
e as nossas estrelas erram ainda
por hemisférios diferentes

Só sei que o dia
devia acabar apenas no fim
O dia
só devia acabar nos teus braços

Anthero Monteiro, Canto de Encantos e Desencantos,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2005,
2.ª edição