segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Ao volante
aí vamos os dois como a voar prá fama
sem pensar nem na morgue nem no hospital
o amor a cento e setenta e tal
por sobre a ponte vasco da gama
mão esquerda nos comandos acelero
que a outra mão tenho-a reservada
e sempre em frente pela madrugada
e que se lixe a tolerância zero
quero lá eu saber do vermelho ou do verde
ou da linha contínua ou dos sinais sem nexo
o que eu quero é saber da luz que há no teu sexo
e é aí, meu bem, que a outra mão se perde
o que eu quero é o fogo mais que insano
é queimar os meus dedos nessa chama
e prosseguir feito vasco da gama
a desbravar as índias pelo oceano
aí vamos os dois rumo ao porvir
abre-te mais num gesto livre e brando
o teu botão é que é o meu comando
a duzentos agora é sempre a abrir sempre a abrir
Anthero Monteiro, Cenas Obscenas,
V.N. Gaia, Corpos Editora, 2001