sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Fumar pode matar
sempre que pegava num cigarro (alguns por dia)
o maço em grandes letras advertia
fumar pode matar
aspirava o fumo com um lento e profundo prazer
e ouvia a eterna ladainha da mulher
fumar pode matar
expelia o fumo demoradamente
e sopravam-lhe do lado de trás e da frente
fumar pode matar
sacudia a cinza no cinzeiro de granito
e alguém lhe repetia o mesmo dito:
fumar pode matar
produzia espirais e nuvens de fumaça
e ouvia sempre vozes mais chatas do que a traça
fumar pode matar
é verdade que sentia uma garra a apanhar-lhe o pulmão
mas a garra maior era a daquela expressão
fumar pode matar
e voltava a acender um cigarro tranquilo
e a ver o maço de novo a adverti-lo
fumar pode matar
aspirava o fumo com redobrado prazer
e ouvia de novo a ladainha da mulher
fumar pode matar
expelia o fumo ainda mais demoradamente
e sopravam-lhe outra vez de lado de trás e da frente
fumar pode matar
sacudia a cinza no cinzeiro de granito
e alguém lhe repetia o mesmo dito
fumar pode matar
até que um dia a sogra caiu na mesma tolice
fez-lhe um grande sermão e concluindo disse
fumar pode matar
fumar pode matar sim nunca se esqueça
e ele pegou no cinzeiro e fodeu-lhe a cabeça
fumar pode matar
fuma ainda mais sobretudo quando se lembra do delito
ou quando olha para o cinzeiro de granito
fuma a dobrar quando sobrevêm a tosse e o catarro
ou quando sente no pulmão alguma dor
mas sobretudo sobretudo não larga o cigarro
no dia do não fumador
Anthero Monteiro (inédito)
Este texto não passa de uma brincadeira de quem só fuma à quarta-feira (e não era minha intenção rimar...).
A minha marca é, de facto, a que consta da imagem, mas, porque só no estrangeiro consigo adquiri-la, em vez de more, cada vez fumo less.
Faça o mesmo, porque são evidentes e indiscutíveis os malefícios do tabaco, ainda que tenha de confessar que é ao More que devo muitos dos poemas da minha vida...