domingo, 2 de agosto de 2009
Fonte
Foto de
Anthero Monteiro
há meses que não chove
e todavia a secular fonte da aldeia
lá está fiel a sussurrar
os bons dias a quem chega
oferecendo-se às mãos e às bocas
ávidas do beijo límpido
mãe esquálida
arranca das entranhas torturadas
o alimento do filho
sob o sol que magoa de tanta secura
chega outro homem sedento
e diz que é deus que só sabe dar-se
mesmo aos que roubam
e aos que cerram as mãos e o coração
tem razão certamente
os humildes como a fonte rente ao solo
para além da água e da razão
e do orgulho de tudo possuírem
têm com deus o infinito
eu estendo as mãos
toda a água se me esvai entre os dedos
e fico apenas com a infinita sede
Espinho, 24 de Agosto 2005
Anthero Monteiro, inédito