quinta-feira, 26 de setembro de 2013

rés-do-chão esquerdo
















comprei um dia o rés-do-chão esquerdo
para o infinito ser mais infinito
e poder ascender a pulso às estrelas

é verdade que ainda estou a 33 anos-luz
mas quando não encontrarem
arturo no boieiro dos céus


em frente à minha janela
fiquem sabendo que de lá a subtraí
e mora-me aqui no peito


no infinito da minha ansiedade

Anthero Monteiro
26/09/2013

sábado, 14 de setembro de 2013

poema do homem prostrado





















havia ali um homem e a sua sombra 
agora é tudo um farrapo
rendido e dobrado sobre si mesmo
um bicho de conta que como os bichos já não conta

trezentas botas muito corajosas vêm pontapeá-lo
esmagá-lo destruí-lo trezentas vezes
já dorme o sono de trezentos justos
e continuam a pisá-lo intrepidamente
pela eternidade adiante

os versos alheiam-se olham para o lado
e mesmo que vissem a nitidez hedionda
não saberiam o que fazer
e as palavras são seixos indecorosos
de tão inúteis e os sonhos que o poeta sonhou
aves tresloucadas que voam muito acima dos mísseis
e nunca pousarão no chão
onde jazem os homens trucidados

afinal a árvore da cabeça
não tem raízes na terra
e os versos do poeta
caem para cima
nos sulcos estéreis da lua


Anthero Monteiro