sábado, 14 de setembro de 2013
poema do homem prostrado
havia ali um homem e a sua sombra
agora é tudo um farrapo
rendido e dobrado sobre si mesmo
um bicho de conta que como os bichos já não conta
trezentas botas muito corajosas vêm pontapeá-lo
esmagá-lo destruí-lo trezentas vezes
já dorme o sono de trezentos justos
e continuam a pisá-lo intrepidamente
pela eternidade adiante
os versos alheiam-se olham para o lado
e mesmo que vissem a nitidez hedionda
não saberiam o que fazer
e as palavras são seixos indecorosos
de tão inúteis e os sonhos que o poeta sonhou
aves tresloucadas que voam muito acima dos mísseis
e nunca pousarão no chão
onde jazem os homens trucidados
afinal a árvore da cabeça
não tem raízes na terra
e os versos do poeta
caem para cima
nos sulcos estéreis da lua
Anthero Monteiro
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