sábado, 8 de agosto de 2009
Medos
Gustav Klimt,
Mother and Child
(Detail from the three
ages of woman, 1905)
7
Mãe tenho um grande segredo
(Nem sei bem se o diga ou não!)
Tenho medo m e d o M E D O
Tenho pavor aflição
E não lhe acho solução
Tenho medo do escuro
Da farronca do papão
Até do próprio futuro
Tenho medo do ladrão
Do corisco e do trovão
Cismo a pensar nalgum sismo
Que nos venha abrir o chão
Na raiva dum cataclismo
Na surpresa de um vulcão
Num dilúvio sem perdão
E se um cometa acomete
Como um imenso dragão
Contra esta casa terrestre
Esta pobre habitação
E lhe espeta algum ferrão?
Tenho medo do gigante
E mesmo de algum anão
Daquele enorme elefante
Mas também de qualquer cão
Duma aranha ou aranhão
Tenho muitos outros medos
Fantasmas de assombração
Diabos bruxas bruxedos
Mesmo que sejam ficção
O pior é se não são!...
Tenho medo sobretudo
É das palavras em "ão"
Algumas já dizem tudo
Como traição aldrabão
Convulsão ingratidão
Tubarão constipação
Indigestão injecção
Prisão febrão furacão
Aqui está o meu segredo
Só de ti não tenho medo
Dá-me mãe a tua mão!
Anthero Monteiro, A Lia Que Lia Lia,
Espinho, Elefante Editores, 1999
Poema incluído no Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa, Vol. VII-VIII,
O Livro É Uma História com Boca,
Lisboa, Instituto Piaget, 1997