terça-feira, 11 de agosto de 2009
Viver não custa nada
Capa da 2.ª edição
do 1.º livro de
Anthero Monteiro
Viver
não custa nada
É só deixar correr
e perfazer
os dias da jornada
É ir no vento
ou contra o vento
mas ir
Viver
não custa nada
O que custa é sentir
este amor este lume
e não se prescindir
deste ciúme
Viver
não custa nada
O que custa é saber
que amanhã ou depois te vou perder
e o que ainda é mais triste
é ver que o Amor das minhas alegrias
afinal não existe
porque não cabe nos dias
Viver
não custa nada
que o que torna a vida impertinente
eivada de acrimónia
é o estado de alerta permanente
é esta imensa insónia
é esta sede avara
que me corrói e não pára
que me tortura e não sara
é tu seres… é tu seres o sol poente
que não volta a nascer
Viver
não custa nada
Atravessar a vida não enfada
que o Mundo é grande e vário
e viver é mesmo extraordinário
quando p´ra além dos sóis
há o sol do teu sorriso
Mas depois
é preciso
vencer
todos os medos
de ver que o hoje foge
e que à socapa
tudo se nos escapa
entre os dedos
Viver
não custa nada
O que custa é entender
como é maior que o peito o coração
e como mesmo assim
eu sinto dentro em mim
o peito vão
tão cheio de vazio e desconsolo
que mais parece
a noz que se oferece
sem miolo
Viver
não custa nada
Muito menos
morrer
Anthero Monteiro, Canto de Encantos e Desencantos,
Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2005, 2.ª edição
Creio ser este um dos meus poemas mais difundidos na Net. E ainda bem porque é, de facto, um dos meus favoritos.