sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Ovelhas




Élio Oliveira,

David sinaleiro
(ou Alvacar 1)
,
técnica mista
sobre tela,
2001







Passavam longamente
pelo carreiro
e faziam o mesmo trajecto

das enxurradas

corriam para o lado do mar

à procura de um mar verde

de erva

era um rebanho-centopeia

que o pastor
levava preso ao assobio

mas o carreiro tinha a mania das grandezas

engordou engordou

à força de alcatrão


o pastor mudou de profissão

só ficou com o vício
do assobio


agora é sinaleiro

e lá vai pastoreando

o rebanho interminável

dos automóveis



Anthero Monteiro, in projecto O Animal e a Selva,
V. N. Gaia, Alvacar 1982/2002
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Há quanto tempo não vejo um polícia sinaleiro!... Mas, quando escrevi o poema (1999?), ainda os havia em Portugal...
Foi publicado nesse ano in A Lia Que Lia Lia, dirigido aos mais jovens (porque não aos demais?)