sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nenhum oráculo...



O autor
lendo
os seus
poemas








Nenhum oráculo o predissera ainda

e no entanto natural e discreto
mas novo e excepcional
tudo fluiu como o tempo
Ninguém traçara aquela encruzilhada
e todavia encontrámo-nos
fazendo ali confluir os nossos caminhos
O próprio deus
ao ver traída a ordem das coisas
deve ter encolhido os indolentes ombros

Na recíproca busca
as bocas
engoliram todas as palavras
e foram mordendo
cada
vez
mais
fundo
a mútua
novidade

E recomeçaram
insistiram
remexeram toda a areia da ilha do tesouro
e nunca se desiludiram
porque iam encontrando
ou construindo
ilusão
após
ilusão
cientes ou esquecidas
de que o tesouro não mora naquela ilha
não mora certamente
em nenhum arquipélago da via láctea

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E quando o teu atlas se abriu
pairaram os meus dedos
como águias sobre o pergaminho da paisagem
a estudar as fáceis planícies
os meandros dos álveos escondidos
os recortes caprichosos
as tépidas enseadas
Demorei-me em cada colina
-------------- em cada coluna
que encontrei lá no topo
rodeei-as vezes sem conta
até entontecermos eu e as colunas
elas crescendo sobre plintos róseos
eu comprazendo-me na própria vertigem

Depois só sei que segui viagem
só sei que se fez voragem
que andei perdido por labirintos
----------- por lábios íntimos
que me entranhei pelas florestas
----------- com flores de giestas
e que caí nos nos teus vesúvios
--------------- nos teus eflúvios
---------- em mares tão dúbios
que já nem sei rememorar
a minha história
a nossa história
------------------ até ao fim

Recordo apenas
que no final deste princípio
te ouvi dos lábios macerados
esta pergunta apreensiva

------------- O que pensarás de mim?

Respondo agora

------------- De ti não penso nada
------------- Só sei que penso em ti


Anthero Monteiro
Espinho, 8 de Setembro 1998
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Poema extra-tema mensal,
enquanto não se decide qual o tema do mês em curso.