de azul vestida vem trazer-me assim
pra que eu saiba que nunca será meu
o céu – ah não o céu não é pra mim
vem ligeira e tão grácil como a lua
nessas sandálias que me lembram asas
para eu te ver flutuando sobre as casas
que o meu lugar é o chão da minha rua
vem desse teu sorriso revestida
natural como um sol nas gotas de água
pra que eu sinta mais fundo a minha mágoa
de não ter visto a terra prometida
vem assim jovial e tão segura
vem sobrenatural como uma deusa
que essa alegria adoce esta tristeza
e que essa graça amaine esta tortura
vem cheia de surpresas nos cabelos
feitos de anéis de vento e de gavinhas
faz-me esquecer que apenas foram minhas
as ondas de pavor dos pesadelos
vem não te importe a minha condição
e não olhes sequer pra onde vegeta
esta figura triste de poeta
que é dono de um inútil coração
tu que fizeste do meu norte sul
não desças mais aqui à minha beira
ergue os olhos e sobe sobranceira
de azul vestida para além do azul
Anthero Monteiro
inédito (01/09/2010)