quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fuga










Fugir-te.
Mas não hoje - hoje não.
Tenho de preparar-me
para o galope branco da fuga

Não posso dizer-me: parto agora
e partir, pronto.
Pensando que ia, teria ficado todo para trás

Pouco posso contra o teu universo.
Não sou Bogart, não sou Brando
não lutaria por uma ideia política.
Pouco posso - talvez um verso.
Ontem ainda teria ido a tempo.
Oferecia-te a flor que me pedes desde o início
fingiria gostar de animais
e, claro, iríamos ao cinema.
Devia ter convivido mais com o teu Bogart, com o teu Brando.
Devias ter tido o cuidado de investigar a atitude dos príncipes
as certezas dos guerreiros
mas quando cheguei
já o teu universo estava repleto

E agora posso pouco - nem mesmo um verso
Hoje não. Mas quando puder
partirei no primeiro barco.
Procuro o sítio ínfimo
onde os melros se matam sozinhos.

João Habitualmente, in Animais Antigos