segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Traição

o senhor vento
violento
passou no jardim
deixou prostradas
as rosas

o jardineiro
que só tinha olhos
e mãos
para as flores
debruça-se
para erguê-las

mas no atalho
sobranceiro
passeia uma sombra
o seu perfume

o homem detém o gesto
e fica a olhar
até desaparecer
aquela mulher
desconhecida

e às rosas perfeitas
mas impacientes
pareceram longas horas os instantes
em que ficaram vergadas
ao peso da vergonha
e do ciúme

à espera dos olhos traiçoeiros
à espera daquelas mãos tardias

Anthero Monteiro
Santa Maria da Feira, 3 de Novembro 2003