segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Uma imagem de Leda
O cinema é cruel
como um milagre. Nós
sentamo-nos na sala
às escuras pedindo só
ao espaço branco
e vazio que se
mantenha puro. E
de repente apesar disso
fica negro. Não pela
mão que segura
a caneta. Não há
mensagem. Somos nós
aparecendo nus
na margem do rio de
corpo em cruz enquanto
a máquina voa
mais perto. Gritamos
tagarelamos saltiamos e
lavamos o cabelo! É
por nossa oração ou
desejo que isto
acontece? Oh que luz
é esta que firme
nos agarra? Até nossos
membros se apressam
levando à desgraça sob
esse olho branco
como se houvesse verdadeiro
prazer em amar
uma sombra e acariciar
um disfarce!
Frank O’Hara in
Jorge Sousa Braga, António Ferreira e Álvaro Magalhães,
O Bosque Sagrado, Porto, Gota de Água, 1986