terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Introdução ao niilismo

JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES



Amanhã, dia 4/1/2012, 21.30 h., estará nas Quartas Mal Ditas do Clube Literário do Porto.

Leituras pelo Coletivo das QmD.

Coordenação e guião de ANTHERO MONTEIRO.

Colaboração musical da pianista SOFIA LOURENÇO.










A noite passada enviei um SMS ao meu Pai

mas ele não respondeu. Já kontava kom issu. O

corpo dele baixou faz

outro mês amanhã

nenhum de nós destinou o Sony Ericsson dele

ao rectãngulo do caixão. Era

de um género antigo (outrossim

muito estimado)

algumas horas ligado mesmo sem conversação

começava a avisar: bateria esgotada.

Duvido porém que a rede fosse boa

lá no fundo.

Quando descia aos arrumos era o que acontecia.

Sucede que agora se quero falar com ele

tenho de ligar a Deus. E eu não falo com Ele.

Não quero ter de calar (olhando-O

olhos nos Olhos)

«uma morte nunca é justa»

«foi demasiado cedo» «já agora

passe aí a meu Pai».

Já tenho ligado para Deus

parece dar sempre ocupado.


João Luís Barreto Guimarães, Poesia Reunida, Lisboa, Quetzal, 2011

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João Luís Barreto Guimarães nasceu no Porto em 1967. Divide o seu tempo entre Leça da Palmeira e Venade, conc. de Caminha. É licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade do Porto e especialista em cirurgia plástica reconstrutiva e estética no Centro Hospitalar de VN Gaia. Está na blogosfera com um blogue que tem o seu nome e com outro, coletivo, intitulado Poesia & Limitada.
Publicou o primeiro livro de poemas Há Violinos na Tribo, em 1989, apenas com 22 anos, a que se seguiram Rua Trinta e Um de Fevereiro (1991), Este Lado para Cima (1994), Lugares Comuns (2000), 3 (poesia 1987-1994), em 2001, Rés-do-Chão(2003), Luz Última (2006) e A Parte pelo Todo (2009). Todos estes livros tiveram reedições, mas encontram-se agora agrupados na coletânea recentemente publicada pela Quetzal, Poesia Reunida, o que nos possibilita apercebermo-nos com mais facilidade do percurso poético do autor.
José Mário Silva escreveu no Expresso, a propósito deste livro, que o autor «só sabe escrever «de dentro da vida» (expressão que é do pp. Poeta) e faz sempre da vida (e da escrita) uma celebração.»
Também Pedro Mexia fala da poesia do João Luís como «uma reiterada capacidade de escrever sobre matéria jubilosa». Maria Alzira Seixo refere-se ao trabalho artístico do poeta como “mestria de composição” e Fernanda Botelho atribui-lhe «um impressionismo reflexivo e uma sensibilidade metafórica não muito comuns».
O magazine literário on line 3:AM refere-se à sua obra como «uma referência» e «um trabalho do que há de melhor nas letras portuguesas contemporâneas».
José Ricardo Nunes, no posfácio do livro, resume assim as características da poesia do João Luís: «a presença do real, numa explosão de vida, em todas as dimensões – pessoais, sociais, éticas; a atenção ao quotidiano, ao que surge à superfície dos dias e é facilmente reconhecível; o constante apelo ao leitor e a exigência da sua participação activa.» Humor, ironia, domínio da língua e da função poética da linguagem em todos os sentidos, brevidade e concisão, coloquialidade, são outras das suas virtudes. Mas o que mais deverá agradar-nos é poder verificar que tudo o que escreveu o fez com verdadeiro sentido lúdico e gozo estético e que é capaz de dar a usufruir esse prazer e deleite a quem o lê.