quinta-feira, 1 de agosto de 2013

a sementeira dos sorrisos















Foto Anaas




agora não vou desistir
só me custaram os primeiros sete minutos
uns estalidos nas comissuras dos lábios
curtidas de anos de severidade
uns arrepanhos e contraturas dolorosas
o abrir forçado de janelas tomadas da poeira
do serrim da traça da babugem das aranhas

reabre-se a janela três vezes refecha-se outras tantas
e o sorriso vai regressando da cerração das angústias
da névoa das tristezas dos miasmas da sonolência
descerra-se o semblante opaco num convite irrecusável
e inaugura-se a certeza de que é egoísmo ser-se
feliz sozinho e que é urgente ir semeando sorrisos
para contagiar outras bocas até às multidões

aí estão resultados encorajantes não é que nosso primeiro
escancarou o sorriso na televisão caramelizou a voz
e veio pedir apenas mais uns sacrificiozinhos aos cidadãos
para lhes assegurar um futuro risonho
talvez só devesse sorrir no futuro
quando estivesse garantido esse paraíso prometido
mas quem duvida de que uma promessa
sorridente é muito mais credível

havia algo porém naquele sorriso que destoava
naquela fronha dava-lhe um ar estúpido
não fosse dar-se o caso de todos os outros ministros
talvez por força daquela sementeira desatarem
também a rir-se e foi aí que eu vi que a pátria
estava salva o desemprego não iria baixar
ele avisou logo mas a vida ia começar a sorrir
o pão não chegará a todas as bocas mas nunca
o pão alimentou os sorrisos sim a pátria estava
salva a pátria estava salva a pátria estava salva
viva portugal (que se fodam os portugueses)

Anthero Monteiro