quarta-feira, 25 de abril de 2018
A minha liberdade
Anthero Monteiro
por Filipe Ferreira
vós os que procurais em vão a justiça
vós os que interrogais os céus inutilmente
vós olhos doridos de desilusão
tomai a minha liberdade
vós que ainda não tivestes a vossa hora
vós que ainda não divisastes a terra prometida
vós que sois espoliados até da vossa esperança
tomai a minha liberdade
tomai-a nas mãos com amor religioso
é tudo o que possuo - e é tão pouca
é diminuta como uma semente
mas é como semente que eu a quero
é pela semente que aquele campo é uma seara
é pela semente que a foice desce ao trabalho
é pela semente que nesta mesa há pão
abdico desta semente
e na hora em que poderia usá-la
podeis lançá-la ao campo de batalha
para que dê fruto e vos sacie
bom é que morra no aceso do combate
como morrem todas as sementes
para ressurgir em libertação
Anthero Monteiro
(escrito em 1974)
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