quinta-feira, 3 de maio de 2018

Cilada















Anthero Monteiro
(foto Prof. Paulo Pedro)



Andava na vida
coa alma assustada
temendo a investida
dos ladrões da estrada
sempre de fugida
da gente malvada

Andava em segredo
e pela calada
tolhido do medo
de tudo e de nada
de bruxa bruxedo
de gnomo ou de fada

Andava e tremia
a cada passada
esperava de um espia
alguma laçada
e mal me escondia
fechava a portada

Até que uma tarde
sem hora marcada
sem fazeres alarde
e sem seres chamada
num ato covarde
de feia golpada

chegaste e me viste
e eu tirei a espada
coloquei-a em riste
à porta da entrada
mas mal me sorriste
caí na cilada

E assim sem o aviso
de uma tal cartada
fiquei sem juízo
e de alma roubada
a olhar-te o sorriso
que alegra a alvorada

O pavor extinto
a espada quebrada
só sei que não sinto
nem medo nem nada
e diz-me o instinto
que és a minha amada

Anthero Monteiro
Canto de Encantos e Desencantos, Porto, Corpos Editora,  2.ª edição