Não fales. Morre sempre um segredo
quando falas:
o amarelo das maias, do tojo, das acácias,
o amarelo com que é feito o verde.
O funeral é bonito com todas as cores presentes
mas o vermelho nunca mais será o mesmo.
As papoilas abandonam as margens do comboio
onde escrevo este poema. Emigram talvez,
o que lhes resta?
O frio que lhes entra no corpo encontra cerradas
as portas da alma: «volto já»,
a esperança pendurada onde devia estar:
«já fui» com o amarelo, com as papoilas
neste comboio que repete, como quem anda sobre trilhos.
«Não fales. Deixa vir a mim o amarelo».
Rosa Alice Branco, «O único traço do pincel» in
Soletrar o Dia, V. N. Famalicão, Quasi Edições, 2002