quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os amantes















Marc Chagall,
Les amoureux
aux marguerites



Os amantes calam.
O amor é o silêncio mais fino,
o mais trémulo, o mais insuportável.
Os amantes buscam,
os amantes são os que abandonam,
são os que mudam, os que esquecem.

O coração diz-lhes que nunca hão-de encontrar,
não encontram, buscam.
Os amantes andam como loucos
porque estão sós, sós, sós,
entregando-se, dando-se a cada momento,
chorando porque não salvam o amor.

Preocupa-os o amor. Os amantes
vivem o dia-a-dia, não podem fazer mais, não sabem.
Estão sempre a ir,
sempre, para qualquer parte.
Esperam,
não esperam nada, mas esperam.

Sabem que nunca hão de encontrar.
O amor é o adiamento perpétuo,
sempre o passo seguinte, o outro, o outro.
Os amantes são os insaciáveis,
os que sempre – que bom! ¬– hão de estar sós.
Os amantes são a hidra do mito.

Têm serpentes em lugar de braços.
As veias do pescoço dilata-se-lhes
também como serpentes para asfixiá-los.
Os amantes não podem dormir
porque se adormecem são comidos pelos vermes.
Abrem os olhos no escuro
e cai neles o espanto.
Encontram escorpiões debaixo do lençol
e a sua cama flutua como sobre um lago.

Os amantes são loucos, apenas loucos,
sem Deus e sem diabo.
Os amantes saem das suas grutas
trémulos, famintos,
para caçar fantasmas.
Riem daqueles que tudo sabem,
dos que amam para sempre, veridicamente,
dos que acreditam no amor
como uma lâmpada de azeite inesgotável.

Os amantes brincam a agarrar a água,
a tatuar o fumo, a não se irem.
Jogam o longo, o triste jogo do amor.
Ninguém se há-de resignar.
Dizem que ninguém se resignará.
Os amantes envergonham-se de toda a conformidade .
Vazios, mas vazios de uma costela à outra,
a morte fermenta-lhes por detrás dos olhos,
e eles caminham, choram até à madrugada
em que comboios e galos se despedem dolorosamente.

Chega-lhes por vezes um odor a terra recém-nascida,
a mulheres que dormem com a mão no sexo,
deleitadas,
a arroios de água terna e a cozinhas.

Os amantes põem-se a cantar entre lábios
uma canção não aprendida,
e vão-se embora chorando, chorando,
a formosa vida.

Jaime Sabines, Poemas del Alma
(Tradução de Anthero Monteiro)