domingo, 30 de setembro de 2012
quedas
Anthero Monteiro
(foto de Anaas)
de repente um estrondo
algures na casa
rouba-me de um voo alucinante
sobre campos e bosques e aldeias
acendo as luzes
percorro toda a casa
entro na biblioteca
herberto helder
está prostrado por terra
voluminoso asas abertas
uma quebrada
alguém o empurrara ou então
ele se lançara do oitavo
andar das estantes onde
pus a morar os grandes paquidermes
o dante alighieri o ariosto
pejado das fúrias de orlando
o rui belo inteiro o al berto
sobraçando a bíblia negra
intumescida de medo
este aliás fora de lá preci
pitado na véspera
pela mesma estranha força
um ente qualquer poeticida
habitante de uma página assombrada
ergo herberto da alcatifa acarinho-o
componho-lhe as asas subo
a uma cadeira dependuro-me
com risco de cair
recoloco-o no seu lugar
mais acordado mostro-me na varanda
às minhas estrelas e a todos
os figurantes do cortejo celeste
um deles talvez um cuspidor de fogo
saúda-me num rasto repentino
desprende-se acima de perseu
sobressalta a cassiopeia
despenha-se nas pinças de andrómeda
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