terça-feira, 27 de novembro de 2012
O naufrágio
------Apenas o hipopótamo e o seu dono escaparam
ao naufrágio, saltando para cima de um pequeno bote.
O hipopótamo era o ganha-pão do homem e por
isso quando o pequeno bote se começou a inclinar para o lado onde estava o
animal, o homem ficou preocupado com a possibilidade de este se afogar. Para
evitar que a pequena embarcação se desequilibrasse completamente o homem cortou
um pedaço do hipopótamo e comeu-o, o que também era oportuno pois começava a
estar com fome. O pequeno pedaço tirado ao hipopótamo permitiu que o bote
recuperasse o equilíbrio entre os dois lados, como uma balança. Mas por pouco
tempo. Novamente o bote começou a ir ao fundo do lado do hipopótamo. Este,
apesar do bocado que lhe fora retirado, ainda era mais pesado que o seu dono. O
homem decidiu então comer mais um pedaço do hipopótamo. Depois de o fazer,
olhou para o barco e viu que ainda não era suficiente: tirou mais um bom bocado
do animal e comeu-o. O barco recuperou o equilíbrio.
A viagem durou ainda algumas semanas e o
homem, de seis em seis horas, via-se obrigado a cortar mais um bocado do
animal.
Talvez não fosse a solução perfeita, mas
não poderia correr o risco de perder o hipopótamo.
Gonçalo M. Tavares, O Senhor Brecht, Lisboa, Caminho, 2004