sexta-feira, 9 de abril de 2010

Domingo




















Porto, domingo. Morre de cansada
a tarde ruiva de olhos azulinos,
isto apesar de não ter feito nada
pois que guardou os ócios citadinos.

Foi para a Foz, levou a pequenada
para os folguedos próprios dos meninos,
e a certa altura estava tão corada
como quem bebe largos vinhos finos.

Agora esvai-se e mancha de vermelho
os vidros altos deste Porto velho
que muito preza as tardes domingueiras.

É que amanhã começa uma semana
de luta imensa e inveja e luta insana,
uma infernal semana de canseiras.

Manuel de Oliveira Guerra, Caminho Longo,
Porto, Papiro Editora, 2006


Nasceu em Oliveira de Azeméis, em 1905.
Morreu no Porto em 1964.
Era filho de de um operário vidreiro da Marinha Grande, que viria a tornar-se industrial do mesmo ramo em Oliveira de Azeméis. Manuel estava destinado a colaborar com o pai, mas uma grave doença óssea obrigou-o a ficar internado, aos onze anos, no Sanatório Marítimo do Norte, em Francelos, onde permaneceu outros 11 anos, aí fazendo os seus estudos liceais com o apoio de uma professora.
Foi autor de uma colectânea de poemas intitulada Padre... Nosso, que escreveu em pouco mais de um mês e se esgotaria em quinze dias. A segunda edição e a publicação de um novo livro, agora intitulado Ave Maria, na esteira do primeiro, foram sendo adiadas por questões de ordem religiosa, política e familiar. Casado, decidiu viajar sozinho para o Brasil, onde permaneceu durante algum tempo. Quando regressou, verificou que tinha sido deserdado e que se esboroara tudo quanto deixara, vendo-se obrigado a estabelecer-se no Porto com uma loja de vidros. Em 1960, reedita o seu primeiro livro e começa a edição dos inéditos., que incluem poesia e contos. Militante da aproximação luso-galaica, foi director da revista Céltica, publicando 4 números.

Para saber mais sobre Manuel Oliveira Guerra, ler:

Anthero Monteiro, «Os Sonetos Anticlericais de Oliveira Guerra (No Centenário do seu Nascimento)» in Luís Machado de Abreu (coordenação), Incidências Anticlericais, Centro de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, 2006