domingo, 11 de abril de 2010
Ribeira
Foto A.M.
Mãe do olhar sem retorno
e da pedra levantada.
Mãe do embalo das águas
limando as arestas do cais.
Mãe dos barcos encalhados
nos baixios da memória.
Mãe dos muros, das colmeias,
do arco de ferro sombrio.
Mãe da luz e da neblina
e das águas sublevadas.
Mãe das refregas perdidas
e da dor dos afogados.
Mãe das vozes estridentes
e dos amantes sem horas.
Mãe dos velhos que beberam
a última gota de céu.
Mãe dos homens que partiram
e daqueles que voltaram.
Mãe das mulheres que acendem
o lume primeiro do dia.
Mãe dos meninos nascidos
da verde placenta do rio.
João Pedro Mésseder, Porto Porto,
V. N. Gaia, Calendário das Letras, 2009