- Já está boa, Ti João. A pressão já atingiu o máximo, exclamou o maquinista.
- Partiiiida!, gritou uma voz lá ao longe, ao mesmo tempo que se ouvia a corneta do chefe da estação.
- U, U, U, respondeu a máquina ao aviso da corneta.
Tchaf, tchaf, tchaf, tchaf, faz mais fumo, faz mais fogo, força firme foge-foge nesta viagem sem fim.
Tchaf, tchaf, tchaf, tchaf, pouca-terra, pouca-terra, puxa-passa, passa-puxa a potência do vapor para a roda pedaleira.
Tchaf, tchaf, tchaf, tchaf, rilha o ferro, range o rail, roda a roda reduplica a raiva de mil corcéis a escoucinhar furiosos as alavancas da máquina.
Tchaf, tchaf, tchaf, tchaf, a caldeira a rebentar já não vive, sobrevive aos cavalos de vapor – catrapum e catrapum, catarapum e catrapum – patadas no corpo-aço das alavancas motrizes e vai-que-vem e vem-que-vai são muitas mil toneladas de aço e ferro para arrastar.
Corre, corre comboiozinho, conta-conta a tua história, canta-canta a melopeia – tum, tum, tum e tum, tum, tum – toada música-toante, melodia de viagens cem mil vezes repetidas quase até ao infinito.
O fogueiro afogueado anima a marcha do trem, canta modinhas bonitas, assobia sonhos-sol e os seus cavalos brancos crinas soltas, força livre puxam pela geringonça - tchaf, tchaf, tchaf, tchaf – respondendo com amor àquele duende mágico mascarrado com carvão.
Carlos Correia, A Locomotiva Tchaf