domingo, 27 de março de 2011
Ode
- - - - - - - Da capa do livro Harmonika-Zug de Dominique de Roux da Gallimard
Empresta-me o teu grande ruído, o teu doce andamento,
O teu nocturno deslizar através da Europa iluminada,
Ó comboio de luxo! e a música tão angustiante
Que sussurra ao longo de teus corredores de couro dourado,
Enquanto por detrás das portas lacadas, com loquetes de cobre pesado,
Dormem os milionários.
Cantarolando percorro os teus corredores
E sigo a tua corrida até Viena e Budapeste,
Misturando a minha voz às tuas cem mil vozes,
Ó Harmonika-Zug!
- Senti pela primeira vez toda a doçura de viver,
Numa cabine do Norte-Expresso, entre Wirballen e Pskow.
Deslizava-se através das pradarias onde os pastores,
Ao pé de grupos de grandes árvores semelhantes a colinas,
Estavam vestidos de sujas e cruas peles de carneiro…
(Oito horas da manhã no outono, e a belíssima cantora
De olhos violeta cantava na cabine ao lado.)
E vós, grandes espaços através dos quais vi passar a Sibéria e os montes do Sâmnio,
A áspera Castela sem flores, e o mar de Mármara sob uma chuva tépida!
- Emprestai-me, ó Oriente-Espresso, Sud-Brenner-Bahn, emprestai-me
Os vossos milagrosos ruídos surdos e
As vossas vibrantes vozes de corda de viola;
Emprestai-me a respiração ligeira e fácil
Das altas e delgadas locomotivas, com movimentos
Tão desembaraçados, as locomotivas dos rápidos
Precedendo sem esforço quatro vagões amarelos com letras de ouro
Nas solidões montanhosas da Sérvia,
E, mais longe, através da Bulgária cheia de rosas…
- Ah! é preciso que esses ruídos e esse movimento
Entrem nos meus poemas e digam
Para mim a minha vida indizível, minha vida
De criança que não quer saber nada, a não ser
Continuar eternamente à espera de coisas vagas.
- Valery Larbaud (1881-1957) Trad. David Mourão-Ferreira
Empresta-me o teu grande ruído, o teu doce andamento,
O teu nocturno deslizar através da Europa iluminada,
Ó comboio de luxo! e a música tão angustiante
Que sussurra ao longo de teus corredores de couro dourado,
Enquanto por detrás das portas lacadas, com loquetes de cobre pesado,
Dormem os milionários.
Cantarolando percorro os teus corredores
E sigo a tua corrida até Viena e Budapeste,
Misturando a minha voz às tuas cem mil vozes,
Ó Harmonika-Zug!
- Senti pela primeira vez toda a doçura de viver,
Numa cabine do Norte-Expresso, entre Wirballen e Pskow.
Deslizava-se através das pradarias onde os pastores,
Ao pé de grupos de grandes árvores semelhantes a colinas,
Estavam vestidos de sujas e cruas peles de carneiro…
(Oito horas da manhã no outono, e a belíssima cantora
De olhos violeta cantava na cabine ao lado.)
E vós, grandes espaços através dos quais vi passar a Sibéria e os montes do Sâmnio,
A áspera Castela sem flores, e o mar de Mármara sob uma chuva tépida!
- Emprestai-me, ó Oriente-Espresso, Sud-Brenner-Bahn, emprestai-me
Os vossos milagrosos ruídos surdos e
As vossas vibrantes vozes de corda de viola;
Emprestai-me a respiração ligeira e fácil
Das altas e delgadas locomotivas, com movimentos
Tão desembaraçados, as locomotivas dos rápidos
Precedendo sem esforço quatro vagões amarelos com letras de ouro
Nas solidões montanhosas da Sérvia,
E, mais longe, através da Bulgária cheia de rosas…
- Ah! é preciso que esses ruídos e esse movimento
Entrem nos meus poemas e digam
Para mim a minha vida indizível, minha vida
De criança que não quer saber nada, a não ser
Continuar eternamente à espera de coisas vagas.
- Valery Larbaud (1881-1957) Trad. David Mourão-Ferreira
Etiquetas:
David Mourão-Ferreira,
POESIA SOBRE CARRIS,
Valery Larbaud