terça-feira, 30 de abril de 2013
erótica
Desenho
de Picasso
(1963)
abres-me a porta e brotam dos teus braços
mil portas descerrando o paraíso
desabotoas largo o teu sorriso
que enflora os meus sorrisos sempre escassos
abres o quarto a cama o coração
os corações pintados nos lençóis
desafivelas tudo e me propões
libertar da minha alma a cerração
desabrochas as róseas flores do peito
as palavras mais sábias da ternura
acendes uma flor na flora escura
de ti faço o meu leito sobre o leito
confluem num só rio os nossos rios
sem açudes sem diques sem comportas
e despertam ao ritmo das aortas
cicios calafrios arrepios
alarga-se o teu dâblio numa oferta
que me esbuja me puxa que me enleva
e é na incisão onde se agrega a seiva
que ereta esta minha árvore se enxerta
porque senhor de ti já nem sou dono
de mim que me perdi já não me encontro
estreitas nos teus braços talvez outro
mas é nos teus que exausto me abandono
Anthero Monteiro,
Sete Vezes Sete Nuvens, Porto, Egoiste, 2010
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