sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um amor enigmático




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na marquise ao lado da minha
ouço a voz da vizinha
em prolongados
fraseados
afetivos
pontilhados
de diminutivos.

não não é o marido
que esse anda na garagem entretido
noutra espécie de afeto:
um paninho macio
e muito brio
lá vai polindo
o seu objeto
lindo
e predileto –
que o nome aqui gravado fique:
é o seu Honda Civic

cá em cima prosseguem os momentos
de incontidas meiguices
os brandos chamamentos
preliminares hipnóticos
gritinhos e tolices
próprias dos jogos eróticos

ela chama-lhe doidinho até enrouquecer
trata-o de a coisa mais rica
e de pirata logo a seguir

e é então que o seu objeto de prazer
se identifica
começando a latir

Anthero Monteiro
(inédito)