Quando eu era petiz da altura de três palmos,
terça-feira, 19 de março de 2013
Agora eu sei
Quando eu era petiz da altura de três palmos,
Falava muito alto para parecer um
homem
E dizia: eu sei, eu sei, eu sei,
eu sei.
Era o começo, era primavera.
Mas quando cheguei aos dezoito
Disse: Eu sei, aí está, desta vez
eu sei.
E hoje, nestes dias em que olho
para trás,
Vejo a terra em que andei de um
lado para o outro
E nem sequer sei como é que ela
gira!
Pelos vinte e cinco tudo eu sabia:
O amor, as rosas, a vida, a
maquia.
Sim, claro, o amor era algo que eu
sabia de cor!
E felizmente, como os meus
companheiros, não tinha comido todo o meu pão.
No meio da vida, aprendi ainda.
O que aprendi, isso resume-se a
três ou quatro palavras:
“O dia em que alguém te ama, faz
muito bom tempo,
Não consigo dizer melhor: faz
muito bom tempo.”
É o que me espanta ainda na vida,
A mim, que estou no outono da
vida.
Esquecemos tantas noites de
amargura
Mas jamais uma manhã de ternura!
Em toda a minha mocidade, quis
dizer Eu sei.
Só que, quanto mais em procurava,
menos sabia.
Sessenta batidas soaram no
relógio,
Continuo à janela, a olhar e a
interrogar-me.
Agora eu sei, eu sei que nunca se
sabe nada!
A vida, o amor, o dinheiro, os
amigos e as rosas…
Nunca se sabe o ruído nem a cor
das coisas.
É tudo o que sei! Mas isso sei-o
bem!...
Jean Gabin (ator e cantor francês, 1904/1976),
tradução de Anthero Monteiro
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