segunda-feira, 25 de março de 2013

Aí está o saldo final









Busto de J. Atilla
na rua com o seu nome
em Budapeste
(Foto A.M.)






Confiei em mim desde o primeiro momento.
Custa muito pouco ser dono do vento.

E à besta não lhe é mais custosa
a vida, até que a lançam à fossa.

Nasci, amei, fui longe, fiz o resto.
Com medo, às vezes, mantive-me no posto.

Paguei sempre as dívidas contraídas
e agradeci, com as mãos estendidas.

Se fingida mulher aqui e além me quis,
amei-a, para que pudesse ser feliz.

Fiz cordas, varri, dei-me ao vinho
e entre os espertos fingi-me cretino.

Vendi brinquedos, pão e poesia,
jornais e livros: o que se vendia.

Não morrerei enforcado em fácil trama
ou em grande batalha, mas na cama.

Vivi (já está aí o saldo final):
Muitos outros morreram deste mal.

Jósef Attila  (1905-1937) 

A sua vida de apenas 32 anos não obstou a que se tornasse num dos mais importantes poetas da Hungria do séc. XX.
Nascera em Budapeste, filho de uma lavadeira e de um operário da indústria de sabões. Atormentado por todo o tipo de dificuldades (a fome, a miséria, a esquizofrenia) fez várias tentativas frustradas de suicídio: ingeriu 50 aspirinas que, apesar dos danos causados, não conseguiram matá-lo; ingeriu também veneno e o mesmo aconteceu; deitou-se depois sobre a linha férrea, mas o comboio foi parado por outro suicida que se atirara para a linha; a segunda tentativa idêntica obteve finalmente o êxito que ele desejava ardentemente.