segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Chuva na Hauptstrasse
Hotel Schöneberg
Enrodilhados neste disforme
edredão de penas, sofre-se o conceito
germânico de leito, ouvindo chegar
um Junho humedecido, no Balcon envidraçado
do quarto do Hotel Schöneberg. Desistimos
da visita à sepultura de Marlene, num
pequeno cemitério aqui próximo, que dizem
bastante arborizado e apetecivelmente
deserto. E ficámos a olhar
a mulher turca de cabeça velada, com
a filhita pela mão, vestida em tons
berrantes. No passeio em frente,
os grandes contentores da Rotes Kreuz,
para donativos de roupas usadas,
atestam a organizada caridade
do povo alemão. Até a chuva
parece aderir organizadamente a todas
as formas estáticas ou animadas, com
o seu antigo manto.
Berlim, 96
Inês Lourenço, Um Quarto com Cidades ao Fundo,
V. N. Famalicão, Quasi Edições, 2000
Inês Lourenço acaba de editar mais um belo livro de poemas com um sugestivo título: Coisas Que Nunca, da &etc.