segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Como uma flor sob a chuva




















cortei a unha do dedo
médio
da mão direita
bem curta
e comecei a esfregar-lhe a racha
enquanto ela sentada na cama
ia pondo creme nos braços
na cara
e nos seios
depois de tomar banho.
então acendeu um cigarro
«continua»,
e foi fumando e foi-se untando
com creme.
continuei a esfregar-lhe a racha.
«queres uma maçã?» perguntei-lhe.
«bom», disse, «tu vais comer uma?»
mas foi a ela que eu comi…
começou a rodar,
depois colocou-se de lado,
ia ficando cada vez mais húmida e abrindo- se
como uma flor sob a chuva.
depois virou-se de boca para baixo
e o seu formosíssimo cu
levantou-se para mim
e eu meti a mão por baixo
até alcançar de novo a racha.
esticou um braço e apanhou-me
a gaita, rodou e virou-se,
montei em cima
fundia-se a cara na mata
de cabelo vermelho
derramada em redor da sua cabeça
e a minha gaita tesa entrou
no milagre.
mais tarde brincamos acerca do creme
e do cigarro e da maçã.
depois fui à rua e comprei frango
e gambas e batatas fritas e bolinhos
e puré e molho
e salada de couve, e comemos, ela disse-me
como lhe soube bem e eu disse-lhe
como me soube bem e comemos
o frango e as gambas e as
batatas fritas e os bolinhos
e o puré e o molho
e até a salada de couve.

Charles Bukowski, 20 poemas
(tradução de Anthero Monteiro)