quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desolação










A casa está vazia.
Ao cimo da escada apareces às vezes com as
cores do inverno,
e és um vulto,
o sétimo selo sobre a minha palidez.
Não falas, não te moves,
e no entanto a minha vida estremece,
assaltada pelas tuas máquinas profundas.
O pranto cresce nos campos ao abandono.
Os meus dedos fecham os olhos dos
guerreiros mortos.
Chove, chove sempre que os encontro nos
desfiladeiros do norte,
hirtos,
entregues à sua sorte,
como este lugar desabitado cujas lâmpadas
se apagaram,
esta casa vazia onde te deitas para sempre,
já tão longe das hortênsias.

José Agostinho Baptista,
Agora e na Hora da Nossa Morte