terça-feira, 16 de novembro de 2010
O inverno
DEUS está no seu palácio de cristal. Quero dizer que chove, Platero. Chove. E as últimas flores, que o Outono deixou teimosamente presas nos ramos exangues, carregam-se de diamantes. Em cada diamante, um céu, um palácio de cristal, um Deus. Olha esta rosa; tem dentro outra rosa de água; e ao sacudi-la, vês?, cai-lhe a nova flor brilhante, como alma sua, e ela fica murcha e triste, como a minha.
A água deve ser tão alegre como o sol. Se não, olha como correm felizes, sob ela, as crianças, fortes e coradas, com as pernas nuas. Vê como os pardais entram, num alvoroçado bando súbito, na hera — na escola, como diz Darbón, teu médico.
Chove. Hoje não vamos para o campo. É dia de contemplações. Olhem como escorrem as goteiras do telhado. Olha como se lavam as folhas verdes, como o barquito das crianças, ontem parado entre a erva, voltou a navegar na valeta. Olha agora, neste sol instantâneo e débil, como é belo o arco-íris que sai da igreja e morre, num vago vislumbre, a nosso lado!
Juan Ramón Jiménez,
Platero e Eu
Poeta espanhol, n. em 1881, f. em 1958.
Prémio Nobel (1956)
A água deve ser tão alegre como o sol. Se não, olha como correm felizes, sob ela, as crianças, fortes e coradas, com as pernas nuas. Vê como os pardais entram, num alvoroçado bando súbito, na hera — na escola, como diz Darbón, teu médico.
Chove. Hoje não vamos para o campo. É dia de contemplações. Olhem como escorrem as goteiras do telhado. Olha como se lavam as folhas verdes, como o barquito das crianças, ontem parado entre a erva, voltou a navegar na valeta. Olha agora, neste sol instantâneo e débil, como é belo o arco-íris que sai da igreja e morre, num vago vislumbre, a nosso lado!
Juan Ramón Jiménez,
Platero e Eu
Poeta espanhol, n. em 1881, f. em 1958.
Prémio Nobel (1956)