quinta-feira, 30 de maio de 2013

o promontório





















in diebus illis
o infante tinha um promontório
que se erigia emproado e orgulhoso
contra as vagas e os ventos dominantes

era ali que se sentava apostado
em dilatar ainda mais os horizontes
pois sonhava acordado
e à revelia do velho do restelo
que a ponta de sagres
se haveria de retesar
muito para além de si própria

e assim fez o infante que até dobrou o cabo
para o meter no caminho para a índia

mas agora quem se senta no promontório
é mesmo o velho do restelo
 incapaz de sonhar acordado
decrépito e sem tesão  
está apenas sentado e logo adormece
com pesadelos povoados de adamastores

e o próprio promontório
é incapaz de se erigir contra as marés

por isso o velhote  em vez de se sentir a existir
só é capaz de se sentar a desistir
e nos intervalos do sono e dos pesadelos
recorda o fausto do passado
aos infantes incrédulos

o país das maravilhas é agora
a terra das maravalhas e dos maravelhos
e há mesmo quem proponha
que o promontório
passe a chamar-se
busílis


Anthero Monteiro