quarta-feira, 3 de agosto de 2011
De tarde
Édouard Manet, Le déjeuner sur l'herbe, 1862-63
Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde
Tal como uma tela de Renoir ou este Almoço na Relva, aqui reproduzido, o poema de Cesário Verde aborda o tema do campo relacionado com a simplicidade, a naturalidade, a liberdade e a alegria de viver. Recorde-se que é este poeta quem se antecipa em Portugal para aí introduzir o impressionismo, iniciado em França com a primeira exposição impressionista em Paris de 1874.
A exemplo do que acontece com Manet, ao poeta e à sua sensibilidade plástica interessa mais causar uma impressão de orgia sensorial do que enumerar exaustivamente os objetos e os detalhes.
Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde
Tal como uma tela de Renoir ou este Almoço na Relva, aqui reproduzido, o poema de Cesário Verde aborda o tema do campo relacionado com a simplicidade, a naturalidade, a liberdade e a alegria de viver. Recorde-se que é este poeta quem se antecipa em Portugal para aí introduzir o impressionismo, iniciado em França com a primeira exposição impressionista em Paris de 1874.
A exemplo do que acontece com Manet, ao poeta e à sua sensibilidade plástica interessa mais causar uma impressão de orgia sensorial do que enumerar exaustivamente os objetos e os detalhes.