quinta-feira, 4 de agosto de 2011
"Guernica" (de Picasso)
Pablo Picasso, Guernica, 1937
Porque chora esta mulher
de rosto fragmentado e colorido?
Será que pressente a tragédia
monocolor de Guernica, o sangue e o grito,
o fogo vindo do céu, a súplica vinda da terra?
Será que chora por tudo aquilo
que ouviu contar, por tudo aquilo
que lhe roubou o sono e o brilho dos olhos?
Se beleza existe neste rosto inclinado,
neste olhar oblíquo e baço
e no esgar da boca que se dissolve,
é na aflição dos dedos que se desmente.
A mulher que chora é Espanha
garbosa, saborosa, arrebatada
a chorar os irmãos mortos pelos irmãos
na tragédia civil das baionetas
trespassando os corpos fora das arenas.
É Espanha desgostosa a coleccionar imagens
para a grande tela da dor de uma pátria
a morrer em silêncio às portas das catedrais
que Deus, inclemente, deixou de visitar.
José Jorge Letria, Sobre Retratos, Lisboa, Indícios de Oiro
Porque chora esta mulher
de rosto fragmentado e colorido?
Será que pressente a tragédia
monocolor de Guernica, o sangue e o grito,
o fogo vindo do céu, a súplica vinda da terra?
Será que chora por tudo aquilo
que ouviu contar, por tudo aquilo
que lhe roubou o sono e o brilho dos olhos?
Se beleza existe neste rosto inclinado,
neste olhar oblíquo e baço
e no esgar da boca que se dissolve,
é na aflição dos dedos que se desmente.
A mulher que chora é Espanha
garbosa, saborosa, arrebatada
a chorar os irmãos mortos pelos irmãos
na tragédia civil das baionetas
trespassando os corpos fora das arenas.
É Espanha desgostosa a coleccionar imagens
para a grande tela da dor de uma pátria
a morrer em silêncio às portas das catedrais
que Deus, inclemente, deixou de visitar.
José Jorge Letria, Sobre Retratos, Lisboa, Indícios de Oiro