de Braque. Uma tela aberta como
uma planície onde se lêem inex-
plicáveis letras rasgadas a negro
sobre um fundo claro.
É exacta a medida da mão
que edifica a forma, que assalta
o espaço, que faz respirar a obra
e habita a voz que diz: amo a regra
que corrige o excesso. Podia poisar
um pássaro no lugar de fogo
onde se fundem estas cores.
Podia o pintor forrar os muros,
a substância das telas com sílabas
de luz, frases de desassossego
que nunca a pintura o redimiria
da suprema coragem de fotografar
por dentro a vida.
José Jorge Letria, O Desencantador de Sepentes,
Litexa Portugal, 1984