terça-feira, 30 de março de 2010
Exercício de pura circunstância
Foto in
wikipédia
Cedofeita: a passo, cada tarde
a faço, sem projecto. Ímpar, traço
pedras gastas, e casas, nesse baço
regresso, quase espera, quando arde
ao longe, o quarto, e vão, trespasso
a carne, não de largo, que se fecha.
Um corpo será alvo porque deixa
aí, seu rasto. Que boca ou braço
é vento? Esparsa, a luz separa
a morte de seu laço; e já tal
olhar marca os modos e passagens
de manchas e perfis onde se pára.
Tão móveis são as formas que sinal
é o canto, possível, das imagens.
Diogo Alcoforado,
in Eugénio de Andrade, O Poeta e a Cidade (antologia)