terça-feira, 30 de março de 2010

(Obs)cena (Rua de Ceuta / Rua José Falcão)















é ali que o rio coagula por instantes

junto ao semáforo no topo da rua

a mulher planta a vara do corpo na margem
e não sei se é da boca se do avental
que retira pétalas obscenas
para as arremessar

é estranho vê-la desentranhar-se também
e esvaziar a seiva toda fel
para não ser mais que a sombra de um caule

os homens sorriem sem nada compreender
o sinal muda a cor sem nada compreender
o rio volta a fluir sem nada compreender
e a vara esguia esgueira-se
sem compreender que ninguém a compreenda

a rua rescende agora a flores pisadas
inutilmente venenosas


Anthero Monteiro (inédito)