segunda-feira, 29 de março de 2010

A cidade onde nasci


(O Eugénio de Andrade espera-me num Café.
Atravesso as ruas do Porto – a cidade onde nasci
- com os punhos cerrados de dor.)



Não nasci por acaso nestas pedras
mas para aprender dureza,
lume excedido,
coragem de mãos lúcidas.

Aqui no avesso da construção dos tempos
a palavra liberdade
é menos secreta.

Anda nos olhos da rua,
pega lanças aos gestos,
tira punhais das lágrimas,
conclui as manhãs.

E principalmente
não cheira a museu azedo
ou a musgo embalado
pela chuva na boca dos mortos.

Começa nos cabelos das crianças
para me sentir mais nascido nestas pedras.

Porto
- cidade de luz de granito.
Tristeza de luz viril
com punhos de grito.


José Gomes Ferreira, Comboio