segunda-feira, 11 de outubro de 2010
As noites de Casarsa
Os pássaros, presas da existência, cantavam na poeira fina numa trama complicada, incerta, ensurdecedora.
pobres paixões perdidas entre as copas humildes de amoreiras e sabugueiros: e eu como eles nos lugares desertos.
reservados aos puros, aos perdidos, esperava que a noite caísse, que se sentissem em redor os mudos
cheiros a fumo, a miséria alegre que o angelus soasse, velado pelo mistério novo, camponês
no antigo mistério consumado.
foi uma paixão breve. Eram servos aqueles pais e aqueles filhos, tão rudes, para mim, que viviam de religião.
as noites de "casarsa": as suas alegrias austeras eram a monotonia de quem, embora pouco, algo possui
a igreja do meu amor adolescente morrera ao longo dos séculos, e só vivia no antigo e doloroso odor.
Pier Paolo Pasolini, Poesie a Casarse