sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Cena de um filme talvez para Truffaut
Beethoven está sentado de cabeça levemente inclinada para os joelhos.
Os pares aristocráticos dançam.
O príncipe X olha repetidamente a figura
gloriosamente apagada do artista.
Com desdém.
Profere palavras que Beethoven não ouve mas entende.
Os pares olham furtivamente.
Beethoven levanta-se de súbito e avança, lento,
os olhos dominados por um fulgor único,
capaz de derreter toda a banha orgulhosa dos príncipes da Terra.
Silêncio aterrado.
Beethoven, calmo e possuído do seu Espírito Santo,
diz, em voz baixa, firme, sem demagogia:
PRÍNCIPES, HOUVE, HÁ E HAVERÁ MUITOS.
BEETHOVEN HÁ SÓ UM.
O salão despeja-se, lentamente.
Beethoven emborca três copos seguidos.
Levi Condinho, Roteiro Cego