segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Marilyn










Marilyn Monroe
por
Eve Arnold (1954)
in
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Do mundo antigo e do mundo moderno
permaneceu apenas a beleza, e tu,
pobre irmãzinha menor,
aquela que corre atrás dos irmãos mais velhos,
que ri e chora com eles, para os imitar,
e veste os seus cachecóis,
toca sem ser vista os seus livros, os seus canivetes,
tu irmãzinha mais nova,
aquela beleza que humildemente vestias,
que a tua alma de filha de gente pequena,
nunca soube que possuías,
porque de outro modo nunca teria sido beleza,
desapareceu como ouro pulverizado.

O mundo ensinou-te.
Assim a tua beleza passou a ser dele.
Mas continuavas a ser menina
tola como a antiguidade, cruel como o futuro,
e entre ti e a tua beleza possuída pelo poder
meteu-se toda a estupidez e crueldade do presente.
Tu trazia-la sempre contigo, como um sorriso entre lágrimas.
Impudica por passividade, indecente por obediência.

A obediência requer muitas lágrimas engolidas.
Dar-se aos outros,
olhares demasiado alegres, que pedem piedade.
Desapareceu como uma sombra branca de ouro.
A tua beleza que sobreviveu ao mundo antigo,
exigida pelo mundo futuro,
possuída pelo mundo presente,
transformou-se assim num mal…

Pier Paolo Pasolini
(Tradução de Manuela Vieira)