domingo, 10 de outubro de 2010

A tuberculose da alegria





- - - - - - - - - À Vanessa Redgrave (depois de ver o filme Isadora)


Ah! Vanessa, os teus seios, os teus seios
minúsculas e mágicas laranjas
atravessaram a sala do Coliseu
encheram todas as bocas
foram suspensos nos sorrisos
para casa de toda a gente.

Deixa-me dizer-te que enquanto dançavas
dançavas, dançavas e as pessoas adormeciam
eu vi-te em convulsões de desejo
a lamberes com o corpo
o pénis da poesia.

E vi a cópula desesperada e violenta
e aquela seiva doce e quente
a escorrer-te pele boca, pelos seios
pelas coxas magras esqueléticas

e… ah! grande puta
ainda tiveste forças para te masturbares
com a batuta do camarada Stravinsky.

Talvez pensasses que não te pudessem ver
mas eu vi tudo, juro que vi
por isso continuaste tempo fora
a dançar dentro de mim
essa música de musgo e carne e pele
a que eu gosto de chamar
a tuberculose da alegria.

Álvaro Magalhães,
Entre Uma Morte e Outra